Alfabetização: as lições de Harvard

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Nota do Instituto Alfa e Beto:
Este artigo foi publicado originalmente no Jornal do Commercio de Pernambuco

Há uma polêmica perniciosa deflagrada na área de educação de Pernambuco. O professor de Harvard Richard Murnane esteve exatamente em Recife, no final de outubro passado, para falar sobre educação baseada em evidências, a convite do Instituto Alfa e Beto (IAB). O conferencista abordou quatro assuntos, dentre esses, o ensino estruturado e a alfabetização e, para cada um dos temas, analisou a evidência científica disponível, a partir de estudos de países desenvolvidos, e publicada nas revistas científicas de maior rigor.

Sobre os dois tópicos em questão as conclusões foram claras: o ensino estruturado constitui a estratégia mais eficaz para promover a aprendizagem, especialmente quando os professores possuem formação deficiente, caso do Brasil e de vários outros países. E os métodos fônicos constituem a melhor estratégia para alfabetizar crianças em qualquer lugar que adota o sistema alfabético da escrita, como também é o caso do Brasil.

Não é essa opinião de professores da Faculdade de Educação da UFPE. Sem apresentar evidências científicas – pois não as possuem – limitam-se a proferir palavras de ordem e ditar dogmas desprovidos de qualquer fundamentação em manifestações recentes. Com frequência, em palestras financiadas pelo MEC, no contexto do Programa de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), proferem calúnias e apresentam inverdades sobre instituições, como o IAB, sem o menor respeito às evidências e ao público a que se dirigem. Esquecem que a divergência é prática saudável em ambiente democrático. Mas a crítica deve ter sustentação teórica e prática.

São graves os problemas do PNAIC – o promovido pelo MEC. Em primeiro lugar, não possui definição clara do que seja alfabetizar, o tempo todo tergiversa. Segundo, como não há definição, propõe que a criança seja alfabetizada até o 3º ano do Ensino Fundamental, o que é um crime contra a infância. Certamente não é esta a idade certa. O terceiro problema é a ausência de embasamento científico: limita-se a citar argumentos de autoridade, fontes oficiais ou estudos sem comprovação científica.

Em nenhuma publicação do documento elaborado pela UFPE encontram-se artigos científicos publicados em revistas acadêmicas de reconhecido valor. Quarto, quer redescobrir a roda. Numa lista de 10 princípios propostos como novidade, o professor Artur Morais apresenta como novidade de sua lavra de ensinamentos que são conhecidos há pelo menos 30 anos, e que se encontram detalhados com muito maior rigor em livros como os da professora Miriam Lemle. Na tradição acadêmica, é praxe citar fontes.

Quinto, emite conceitos cientificamente equivocados, como, por exemplo, a ideia de que o código alfabético não é um código, e sim um sistema notacional. Equívocos dessa natureza podem parecer filigrana para o não especialista, mas são graves como equívocos e possuem efeitos danosos para o entendimento do processo de alfabetização.

Sua intenção é desacreditar a ciência e o conhecimento científico acumulado. Quem duvidar disso deve assistir o Forum Dyslexia II que será realizado em Belo Horizonte em agosto de 2014, e ouvirá, da boca dos maiores estudiosos da Ciência Cognitiva da Leitura, como o MEC, o PNAIC e alguns professores da UFPE estão iludindo os professores e a sociedade brasileira ao recusar-se a abandonar suas ideologias e palavras de ordem e a trilhar o caminho rigoroso das evidências científicas.

A vida acadêmica é feita de embates. Mas o embate se dá num contexto de busca da verdade, validada por pesquisas rigorosas e não pela intensidade dos decibéis ou o poder do patrono. E normalmente se dá num clima de urbanidade. Parte da comunidade científica, patrocinada pelo MEC e sediada na Universidade Federal de Pernambuco, está passando dos limites, desmoralizando a universidade e desperdiçando dinheiro público.

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