Educação não é política social – é investimento na pessoa e no país

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A educação ainda é vista pela sociedade – e pelos postulantes a cargos públicos – como uma questão social. As propostas dos candidatos presidenciais refletem esse entendimento: elas não consideram a educação como um fator econômico determinante para o desenvolvimento do Brasil. Enquanto isso não mudar, a qualidade da educação não muda.

Esse foi o ponto de partida da intervenção do presidente do Instituto Alfa e Beto, Prof. João Batista Oliveira, no Café Exame Educação, promovido pela Revista Exame, em São Paulo, no dia 18 de setembro, e que contou com a presença de Oliveira e Priscilla Cruz, presidente do movimento Todos Pela Educação.

“Enquanto nós – elite, eleitores, povo brasileiro, imprensa – não entendermos a centralidade da educação no processo de desenvolvimento econômico, a situação não vai mudar”, disse o presidente do Instituto Alfa e Beto. “Pior do que a qualidade da educação, é a qualidade do debate. A virtude de um encontro como esse é lançar luz e qualificar o debate”, complementou. Em sua avaliação, ainda estamos aprisionados nas pautas impostas pelas corporações do setor. “Precisamos trazer esse debate para o centro da sociedade e da economia”.

Durante o evento, ficou ainda mais evidente que o problema das escolas brasileiras não está na falta de diagnósticos. Há um consenso sobre os problemas: faltam políticas de primeira infância que assegurem o desenvolvimento inicial das crianças; a alfabetização ainda é um gargalo, mesmo depois de investimentos maciços, porém equivocados; o Ensino Fundamental não garante a aprendizagem das crianças; e o Ensino Médio é um exterminador de jovens que não se preparam nem para o ensino superior nem para o mercado de trabalho. O resultado é um país que agoniza. Os debatedores se debruçaram sobre algumas dessas questões.

Quando o Brasil garantiu que 50% da sua população fosse alfabetizada, a Inglaterra já o tinha feito 300 anos antes, lembrou Priscilla Cruz. Os dados mostram que não conseguimos alfabetizar os alunos no estágio inicial da educação formal – muitos chegam ao 3o ano sem estar alfabetizados. Esse aluno vai se perdendo no Ensino Fundamental II e chega ao Ensino Médio com o acúmulo de muitas deficiências, pontuou a especialista. Sobre a última etapa da educação Básica, o Prof. João Batista Oliveira completa: “A Prova Brasil mostra que entre o fim do Ensino Fundamental e o fim do Ensino Médio não se agrega quase nada de conhecimento”.

Professores

Como costuma acontecer nos debates educacionais no Brasil, a questão dos professores também surgiu no Café Exame. “Li agora em uma revista distribuída no evento que metade das vagas dos cursos de pedagogia não são preenchidas no Brasil. E o artigo considerava isso um problema. Ainda bem que não foram preenchidas!”, comentou o Prof. João Batista Oliveira. O Brasil contrata menos de 30 mil professores por ano, mas há 1,5 milhão de matriculados em cursos de formação.  Há desequilíbrio sobre oferta e demanda de professores, mas há muita desinformação a esse respeito, mesmo entre pessoas qualificadas e até na imprensa.

Segundo Oliveira, o Brasil precisa de uma política de dois tempos quando o assunto são os professores. “Primeiro, precisamos lidar de forma adequada com esse estoque que ainda está ativo. Depois, como atrair um novo tipo de profissional. Se conseguirmos atrair gente com boa formação de base para a carreira, vai dar certo”.

Priscilla Cruz lembra que 60% dos que ingressam no curso de pedagogia têm nota abaixo da média do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ela defende que haja uma nota de corte no exame que não permita que alunos com baixo desempenho façam opção pela carreira nos vestibulares unificados. “Nenhum país deu certo sem investir no professor. Professor tem que ser formado com excelência”. Essa é uma lição que o Brasil ainda não aprendeu.

Organizador do livro recém-publicado As Fragilidades da Base, que reúne pareceres de diversos especialistas sobre o documento nacional que deve nortear a educação brasileira nos próximos anos, João Batista Oliveira reforçou suas críticas em relação à BNCC. “Uma Base que não comunica, que não tem clareza, não serve para muita coisa. Fico muito feliz em saber que dentro de três anos deve haver uma revisão do documento apresentado”, disse, em referência à menção de Priscilla Cruz de que o objetivo é promover uma atualização da BNCC dentro de pouco tempo.

Ao fim do evento, um dos convidados lançou uma indagação polêmica aos debatedores: é possível fazer educação de qualidade no Brasil sem o Ministério da Educação? “Se é possível ou não, eu não sei. Mas do jeito que vem sendo feito, talvez fosse uma boa ideia”, finalizou o Prof. João Batista Oliveira.