Melhorar o IDEB é desafio para prefeitos

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Escola emocional

Nota do Instituto Alfa e Beto

Este é o quarto de uma série de dez artigos a respeito de medidas eficazes que o prefeito pode implementar a curto prazo, com poucos recursos, como estratégia de iniciar um processo de mudança. Nenhuma dessas medidas, isoladamente ou mesmo em conjunto, assegura a formação de uma rede de ensino de alta qualidade. Mas todas elas constituem ações relevantes em si mesmo, e que, se bem implementadas, podem servir de campo de aprendizagem e de capital político para implementar reformas mais profundas.

Este artigo faz parte de uma série de artigos publicados no site Veja.com no âmbito da parceria no Prêmio Prefeito Nota 10, instituído pelo Instituto Alfa e Beto.

O IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) tornou-se um reconhecido termômetro da educação nacional. Muitos prefeitos festejam quando o IDEB sobe, poucos se confessam preocupados quando ele abaixa, alguns culpam as escolas e procuram os culpados – como se os resultados fossem uma surpresa.

O IDEB não é um bom termômetro, pois ele mistura duas medidas – a nota dos alunos em testes nacionais e o índice de reprovação. Isso permite ao prefeito, se ele o quiser, maquiar os dados. O importante no IDEB é o resultado na Prova Brasil. Mas o prefeito deve saber que o índice de repetência é um problema que atrapalha o seu município, não apenas o seu IDEB. Repetência custa caro ao município e ao aluno.

Suponhamos que um prefeito queira melhorar o resultado do IDEB. Muitos podem fazer isso apenas para ficar bem na foto. Outros podem entender que fazendo isso estão melhorando a educação. Não importa a motivação – melhorar a nota do IDEB é uma boa causa.

Há duas formas de melhorar o IDEB. Se o município tem elevado índice de reprovação, basta reduzir a reprovação que o IDEB melhora. Quanto maior o índice de reprovação dos municípios, maior a chance do prefeito aumentar o IDEB apenas reduzindo a reprovação.  E como já vimos que a reprovação no Brasil é aleatória – há alunos analfabetos que chegam ao 5o ano! -, esta é uma medida importante, que ajuda mas não resolve. O que resolve é melhorar a nota na Prova Brasil. Vamos a ela.

A Prova Brasil, como qualquer prova, reflete o que a criança aprendeu em todos os anos anteriores, e não o que aprendeu no ano de aplicação da Prova. Portanto, “cursinhos” para preparar os alunos para a Prova Brasil só têm mérito se servirem de base para implementar outras mudanças de longo prazo. Sob esse prisma, pode fazer sentido usar a Prova Brasil para iniciar processos de mudança no sistema educacional. De novo, trata-se de uma estratégia que escolhe um caminho viável e politicamente interessante – melhorar o resultado na Prova Brasil – para atacar um problema de fundo, que é melhorar os fundamentos da educação de qualidade.

A maneira ortodoxa de fazer isso é começar pela base: organizar o sistema de ensino e assegurar que o aluno aprenda o que precisa em cada série. Na melhor das hipóteses, vai levar cinco anos para aparecerem os primeiros resultados. Esse caminho é inevitável para assegurar as melhorias a longo prazo. A pergunta do prefeito é: o que se pode fazer no curto prazo?

Existem estratégias conhecidas que podem ajudar a melhorar um pouco o desempenho dos alunos. Treino em fazer provas ajuda, mas ajuda muito pouco. Treino em responder itens como os da Prova Brasil ajuda, mas ajuda muito pouco.

Ajuda mais fazer um processo sistemático de revisão, com ênfase nos conteúdos mais relevantes do currículo que são avaliados na Prova. Existem várias formas de se fazer isso e há algumas iniciativas que já apresentam resultados interessantes.

Intervenções com foco na Prova Brasil podem ter desdobramentos estratégicos. Por exemplo, se há um programa de revisão bem feito, ele indica a série em que um conteúdo deveria ter sido aprendido. Quando o professor do 5o ano revela para os seus colegas da escola que X% dos seus alunos não sabe os conteúdos do 2o ou do 3o ano, ele pode iniciar um saudável diálogo dentro da escola. Por que isso não aconteceu? Não havia programa de ensino? Não havia materiais? Os alunos não sabiam ler? Se o processo é feito com alguns tópicos, para as duas disciplinas centrais – Português e Matemática – está criado um clima para importantes reformas. A própria escola vai começar a identificar falhas da Secretaria e da escola, tais como falta de programa, falta de orientação, normas para recuperação de alunos. Sem pressão externa, dificilmente a escola vai reconhecer que há falhas dela própria, como falta de preparo dos professores, decisões pedagógicas equivocadas etc. Mas dá-se início a um processo saudável de identificar responsáveis e buscar causas.

Nenhuma ação isolada irá mudar a educação. Algumas ações isoladas podem ser eficazes para corrigir problemas pontuais. Dada a quantidade e gravidade dos problemas da educação, o importante é escolher problemas relevantes, que podem ser resolvidos, e cujo processo de solução abra espaço para introduzir outras mudanças. Melhorar o resultado da Prova Brasil com estratégias consistentes pode gerar experiência e capital político para empreender outras reformas.