O Núcleo Ciência pela Infância realizou um seminário no dia 7 de março com o tema: Os desafios da alfabetização no Brasil. Três palestras abriram o seminário, proferidas respectivamente pela Cláudia Cardoso-Martins, do Departamento. de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais, Catherine Snow, da Universidade de Harvard e Renan Sargiani do Departamento de Psicologia da USP.

Em suas apresentações os palestrantes reafirmaram os princípios básicos da Ciência Cognitiva da Leitura, identificaram o papel central da alfabetização como condição necessária para o desenvolvimento da capacidade de leitura e ressaltaram a importância de alfabetizar as crianças logo no início da escolaridade formal. Snow foi enfática ao sugerir que isso deveria ser feito no 1o ano da escola. Respondendo a uma pergunta da plateia, disse que o processo de compreensão da leitura – a formação de um indivíduo letrado – é algo que continua no mínimo ao longo do período escolar.

No painel realizado na segunda parte do seminário, em painel coordenado por Cláudia Costin, ex-diretora de educação do Banco Mundial, a professora Regina Maluf, da PUC-SP, fez uma breve remissão histórica dos debates sobre alfabetização no Brasil e lamentou a demora das políticas públicas e das universidades em absorver as evidências científicas sobre alfabetização em suas propostas na formação de professores.

Em sua breve intervenção, o professor João Batista Oliveira apresentou evidências do impacto positivo do Programa Alfa e Beto de Alfabetização nos últimos 10 anos e ressaltou que o êxito desses programas reside na adoção de uma prática pedagógica baseada em evidências. “O que se disse na primeira parte desse Seminário o Instituto Alfa e Beto vem implementando há mais de dez anos, e é uma prova de que vale a pena fazer educação com base em evidências”.

O professor também apresentou uma linha do tempo ilustrando o seu trabalho e o do Instituto Alfa e Beto desde o final do século passado, e ressaltou que as evidências discutidas neste seminário já estão disponíveis no país pelo menos desde a realização do Seminário Alfabetização Infantil, os Novos Caminhos. “O Brasil – concluiu – poderia avançar muito na educação se passasse a adotar práticas baseadas na evidência científica”.

Também participaram do evento Priscila Cruz (Todos pela Educação) e Mônica Correia Baptista (CEALE/UFMG).

Algumas das perguntas e intervenções deixaram claro que o entendimento predominante sobre alfabetização e ensino da leitura, no país, não se baseia em evidências científicas e ainda está longe de incorporá-las. Mas o evento deixou claro, mais uma vez, que existem conhecimentos teóricos, evidências e que, se implementados de maneira adequada, poderiam assegurar a alfabetização das crianças até o final do primeiro ano do ensino fundamental.