A importância de medir e acompanhar indicadores

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Acompanhar a frequência dos alunos e o ritmo do aprendizado dos diferentes conteúdos, entre outros itens, é possível com o SIGIAB – Sistema de Gestão do Instituto Alfa e Beto. O diretor da escola acessa o sistema e lança os dados, para que seja possível fazer o acompanhamento on-line pelo município, desde o nível da Rede como um todo até uma turma específica. Confira mais na entrevista a seguir com o diretor administrativo do Instituto Alfa e Beto, Leonardo Gomes (em destaque na foto acima).

 

Como o conceito de educação baseada em evidências é trabalhado pelo Alfa e Beto?

Leonardo Gomes: Na forma de pesquisar e de obter evidências em educação, tratando os dados como primeira fonte de evidências. Também por meio de uma gestão é baseada em dados e indicadores, considerando a evolução dos alunos e da rede. Há outra questão, que se refere ao desenvolvimento de conteúdo. Que método vou utilizar: aquele que mais gosto e me adapto melhor ou o que melhor funciona? Esses dois pilares definem a forma de trabalhar do Instituto e estão se retroalimentando o tempo todo. Os dados gerados pela gestão baseada em evidências fornecem subsídios para adequar o método, que se torna melhor calibrado e fornece novos dados para mais avaliações. Podemos comparar os indicadores do antes, durante e depois de nossa entrada em determinada rede de ensino. Aí podemos constatar os resultados de nossa intervenção e desenvolver material e conteúdo adequados e que de fato funcionam.

Qual é o ponto de partida, quando da entrada num município?

Leonardo Gomes: Em alguns casos, a rede pública local nos procura, dizendo que gostaria de trabalhar conosco e indagam como proceder. Outros já vêm com a ideia pronta: “Ah, quero trabalhar somente com a Prova Brasil”. Então é a hora de chegar e dizer “calma, vamos analisar seus dados ou outros indicadores oficiais, para entender melhor sua situação”. É feito assim o Diagnóstico do Município, documento que contém a proposta de intervenção local. Essa é o ponto de partida, porque passamos, a partir daí, a contar com nossos próprios indicadores. Mas não adianta querer trabalhar 10, 20 indicadores, porque temos de fato que implantar a cultura de medir e analisar. Isso pode gerar resistência. Em geral, o primeiro ano é de adaptação e adequação, para ganhar a confiança do coordenador pedagógico, da escola e diretores, para que entendam a importância de medir e acompanhar os indicadores: frequência, ritmo e testes.

Em que consistem esses indicadores?

Leonardo Gomes: A frequência é básica: se a criança não vai à escola, ela não aprende. Muitas vezes me perguntam qual é a meta de frequência? A meta é 100%. A criança tem de estar na escola todo dia. Costumo comparar com a situação de um soldado em uma missão, tem que comprar a ideia e monitorar. Há cidades em que o pessoal liga para a mãe para saber porque o aluno não foi. É assim mesmo. O segundo indicador é ritmo. Nosso material foi pensado para ser trabalhado ao longo de 200 dias letivos, que é o cronograma para um ano de trabalho na escola. São 200 dias letivos e o livro de trabalho em aula tem 20 lições. Então, a escola tem, em média, 20 dias para terminar cada lição. Mas algumas lições mais simples faço em 14 dias, outras mais complexas preciso de 23, e assim sucessivamente. Sempre dentro de uma média.

E o terceiro indicador? 

Leonardo Gomes: São os testes. Nossa equipe desenvolve testes calibrados em cima do conteúdo trabalhado. Os testes são aplicados todo os meses, e os resultados também entram no SIGIAB – Sistema de Gestão do Instituto Alfa e Beto. É possível entender porque uma turma X está com dificuldade em um tema específico. Como o teste é dividido por atividades, é possível identificar em quais os alunos têm mais dificuldade. Há uma analogia que faço quando converso com o prefeito e o secretário de Educação: se uma empresa der prejuízo em um ano e lucro no ano seguinte, o empresário não vai ficar satisfeito, mas vai acatar, porque em dada medida é até aceitável no mercado. Em educação, no entanto, não posso pensar assim. A criança que passou por um processo este ano e não aprendeu, vai levar esse prejuízo para a vida toda, mesmo com reforço.

Por quê?

Leonardo Gomes: Porque é difícil recuperar depois. Em educação, preciso entender agora para corrigir agora. Não dá para voltar uma criança do 3º ano para o 1º. E trabalhamos isso convencendo os municípios. Não se pode fazer uma Prova Brasil no 5º ano, para ver se a criança é alfabetizada. Deve acontecer no 1º ano. O diagnóstico bem feito orienta a decisão do secretário de Educação e do próprio diretor. Os números por si só são frios, é preciso saber interpretá-los. Podem ser identificadas falsas percepções. Se uma criança da escola A tem mais dificuldade em matemática que outra da escola B, logo pensamos que pode ser o professor que não sabe ensinar ou que a dificuldade está no aluno. Pode não ser nenhum dos dois problemas. Ao analisarmos a escola A e percebermos um nível de infrequência muito maior do que da B, identificamos um problema, que deverá ser primeiro sanado, para então voltar a avaliar o professor, o aluno, o conteúdo e o ritmo de aprendizado. Se a criança está indo à aula, o professor está no ritmo certo e, mesmo assim, o aluno não aprende, então recorro ao teste. Preciso entender se é o programa, se precisa de um reforço. Há municípios nos quais o IAB teve de fazer uma segunda capacitação em matemática para os professores, por exemplo. A hipótese inicial, levantada pelo município, era de que o material era “pesado demais para a série/ano e que “os alunos não davam conta”. Nesse caso, percebemos que os professores precisavam de uma nova capacitação para saber como utilizar o material da melhor maneira.

Há resistência em entender o benefício da cultura de aferição de resultados?

Leonardo Gomes: Ninguém gosta de ser mal avaliado. Venho do setor privado e lembro bem que as reuniões de avaliação de desempenho não eram fáceis. É uma característica do ser humano. O que tenho experimentado são processos de mudança organizacional, depois que conseguimos incorporar essa cultura na engrenagem das Secretarias de Educação. Tudo flui melhor e as pessoas entendem a necessidade de avaliar e medir, e não se perde mais tempo no esforço de convencer. Já sabem que têm de aplicar o teste, em que aspecto melhorar etc. A luta é recompensadora, porque você vê as pessoas se posicionando, o diretor discutindo ritmo, frequência e os testes com a gente.

Qual o ponto de maior crítica?

Leonardo Gomes: A maioria das pessoas não quer solução pronta ou ser um agente passivo de todo o processo. Nosso trabalho é justamente o contrário. O professor, o diretor e o coordenador pedagógico têm de ser agentes ativos para que o programa funcione, para investigar o que acontece. O que fazemos é orientar, como uma espécie de coaching, para tentar achar o que não está funcionando. Acredito que o caminho é esse, para encontrar a solução. Temos manuais, cartilhas e notas que mandamos todos os meses para o secretário fazer um resumo do que aconteceu e observar nossas impressões sobre o município. São todos norteadores, porque a decisão é do município, é do professor na sala de aula. Não temos a pretensão de inventar uma solução para resolver tudo. Até porque essa é uma construção a quatro mãos. Por mais que nossos programas tenham identidade própria, a implementação no dia a dia não acontece da mesma forma em Petrolina (PE), Aratiba (RS), Caculé (BA) ou em Boa Vista (RR). Os coordenadores têm essa liberdade de adequar, desde que não modifique ou desvirtue o programa. Claro que existe uma linha mestra, mas não é engessada. Precisamos entender como funciona. Há escolas que trabalhamos e que atendem a comunidade indígena, com suas peculiaridades sociais que devem ser respeitadas por questões culturais. E nós temos de respeitar e levar esse ponto em consideração na hora de implantar o programa. Mas claro, existe uma base, que é o coordenador pedagógico, e ele ajuda o município a gerir, a fazer melhor uso desse conteúdo.

Como operar esse conceito na visão de rede de ensino?

Leonardo Gomes: Cada escola funciona de um jeito e tem um diretor com um perfil diferente. O IAB intervém na rede de ensino, implementando processos que não existiam. Precisamos criar identidade única e que reflita essa preocupação em ensinar. O aluno vem sempre em primeiro lugar, depois o aprendizado e as ferramentas. Aos poucos, vamos desenhando essa identidade e trabalhando os indicadores.

 

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