A medida do QI – como medir a inteligência | Capítulo 12

11665

Este post faz parte de uma série produzida pelo Instituto Alfa e Beto que irá desvendar em 20 capítulos a inteligência. Todas as segundas-feiras são publicados novos artigos neste espaço. Acompanhe! Clique aqui e veja todos os posts já publicados. Para ver o índice completo da série, clique aqui.

Breve explicação para quem não está familiarizado com o conceito de “curva normal”:

Imagine um teste escolar, com 10 questões, cada questão vale 1 ponto. Cada aluno pode tirar entre 0 a 10. Se todos alunos errarem todas as questões, a média será zero. Se todos acertarem tudo, a média será 10. Se todos acertarem a metade, a média será 5. Mas isso raramente acontece. Imagine que 10 alunos tiraram 10, outros 10 tiraram 5 e 10 tiraram zero. A média será cinco. Se metade tira nota nove e metade tira nota 1 a média também será cinco. Médias, nesse tipo de teste, não indicam a distribuição do conhecimento na turma – é preciso conhecer a distribuição para sabermos o que está efetivamente acontecendo com a aprendizagem dos alunos.

Agora considere que você está jogando dados – com os números de 1 a 6. Se o dado não for viciado e se você jogar 100 vezes, cada número vai aparecer aproximadamente 16,6 vezes. A média vai se situar em torno de 16,6 – e o número de vezes que cada número aparece estará muito próximo a média.

Agora considere a medida da altura das pessoas de mais de 15 anos de uma cidade grande, com 100.000 pessoas ou mais. Se você medir cada habitante, provavelmente terá uma dispersão bastante grande dos resultados em torno da média: pouca gente muito baixa, pouca gente muito alta e muita gente em torno do meio da distribuição. E se você fizer uma curva separando homens e mulheres você verá que há diferenças nas médias e na distribuição das duas curvas, como sugerido na figura abaixo, mas a forma das curvas, isto é, a forma da distribuição, será muito diferente.

curvanormal

Os testes de QI são elaborados de acordo com uma métrica específica: a curva normal (no terceiro capítulo desta série falamos sobre a polêmica em torno de um livro chamado A Curva Normal, se lembra?). A figura acima ilustra a curva normal típica dos testes de QI. Ela está dividida em 3 segmentos à esquerda e 3 à direita da média. Esses segmentos se chamam “desvio padrão”.

Nos testes de QI, o desvio padrão é calculado em 15 pontos e em cada segmento vamos encontrar uma determinada percentagem de pessoas. O teste é feito de tal forma que essas percentagens são sempre as mesmas ao longo do tempo, de forma a permitir a comparação do teste entre diferentes momentos ou diferentes populações. Dadas as propriedades estatísticas da curva normal, sabemos que a distribuição será sempre próxima dos seguintes números:

  • metade das pessoas acima e metade abaixo da média
  • 34,13 % acima e abaixo do 1o desvio padrão, respectivamente
  • 13,59% entre o 1o e o 2o desvio padrão
  • 2,14 % entre o 2o e o 3o desvio padrão
  • cerca de 0,14%, ou seja, um número residual de pessoas além do 3o desvio padrão, em ambas direções

Com essa métrica, podemos situar qualquer indivíduo como estando na média, abaixo ou acima dela. Por definição, sabemos que um indivíduo com 85 pontos está 1 desvio padrão abaixo da média e um indivíduo com 115 pontos está com 1 desvio padrão acima da média. Por convenção, considera-se que um indivíduo com 130 pontos ou mais num teste de QI pode ser considerado como um superdotado ou gênio. Numa população grande, em geral menos de 3% das pessoas costumam atingir esse nível.

Esta é uma apresentação correta, mas muito simples a respeito do funcionamento dos testes de QI e da curva normal. Há complicações e tecnicalidades que não cabe discutir aqui – existe uma extensa bibliografia especializada a respeito do tema (parte dela eu venho citando ao longo desta série).

Sem entrar em pormenores, cabe fazer dois esclarecimentos. Os testes de QI são desenvolvidos e calibrados para um país determinado – a maioria dos testes usados por psicólogos em todo o mundo são desenvolvidos e calibrados nos Estados Unidos e, em princípio, representam fielmente a dispersão dos resultados da população. Portanto, se o teste for aplicado a uma subpopulação daquele país – seja por critérios geográficos, étnicos ou raciais – a média dessa subpopulação poderá ser maior ou menor do que 100.

O mesmo se aplica a usar o teste norte-americano em outro país. Nesses casos, para ser válido, o teste precisa ser calibrado, pois o QI médio de diferentes países dificilmente será 100 como na escala norte-americana. Isso significa que a média 100 num teste de QI calibrado para o Brasil, por exemplo, não tem o mesmo significado que 100 pontos no teste original – e para isso existem tabelas de conversão – semelhante a tabelas que usamos para converter moedas de diferentes países.

Na próxima semana…

Os testes de QI revelam diferenças cognitivas entre grupos pessoas, por exemplo, homens e mulheres. Mas essas constatações não costumam ser bem vistas. É o que veremos no próximo post.