Como é feita a avaliação de qualidade da Educação Infantil

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No último mês, perguntamos aos nossos leitores do Facebook sobre qual tema eles gostariam de ler em nosso blog e um dos temas sugeridos foi a avaliação na educação infantil. E é sobre isso que vamos falar hoje.

Para muitos, a menção de métodos de avaliação nessa etapa de ensino pode até causar estranheza. Afinal, a lógica nos faz perguntar: como avaliar crianças tão pequenas que sequer estão alfabetizadas e não fazem provas? Acontece que há muitos aspectos a serem avaliados em creches e pré-escolas e que precisam ser mensurados para garantir o atendimento de qualidade a esta faixa etária.

Sendo assim, o que se avalia nessa etapa de ensino?

Duas ferramentas bastante difundidas e internacionalmente reconhecidas são o ITERS-R (sigla em inglês para Escala de Classificação de Ambientes para Bebês e Crianças Pequenas, em tradução livre) e o ECERS-R (sigla em inglês para Escala de Classificação de Ambientes Para a Primeira Infância, em tradução livre). Trata-se de questionários pré-estabelecidos – e desenvolvidos com bastante rigor científico – que permitem a avaliação objetiva de estruturas e processos que estão associados à educação de qualidade. Em sua essência, ambas as ferramentas são muito parecidas, com pequenas diferenças entre si. A principal delas é que o ITERS é voltado para ambientes com crianças entre 0 e 30 meses enquanto ECERS tem como objetivo avaliar os ambientes com crianças entre 30 e 60 meses.

Entre as estruturas e processos avaliados pelas ferramentas estão:

 

  1. Espaço e mobília (espaço interno e organização das salas, mobílias, provisões para relaxamento e conforto, etc.)
  2. Rotinas e cuidados pessoais (ritual de entrada e saída, rotina de sono, práticas voltadas para saúde e segurança, etc.)
  3. Linguagem (uso de livros adequados, encorajamento à comunicação das crianças, etc.)
  4. Atividades (atividades físicas e artísticas, brincadeiras, música, etc.)
  5. Relacionamentos (supervisão das crianças durante brincadeiras, interação entre crianças e entre funcionários, etc.)
  6. Estrutura do programa (organização da programação diária, brincadeiras, atividades grupais, etc.)
  7. Pais e funcionários (interação da equipe, cooperação, recursos disponíveis para os pais, etc.)

 

Cada um desses itens se desdobra em outros subitens que recebem uma “nota” que varia de 0 a 7, sendo as notas mais baixas consideradas inadequadas e as notas mais altas consideradas excelentes, da seguinte maneira:

1 a <3: Inadequado

3 a <5: Mínimo

5 a <7: Bom

7: Excelente

A grande virtude do uso desse instrumento é que seus indicadores são explícitos. Isso permite entender com precisão a razão da nota obtida em cada subescala, bem como identificar os itens que podem ser aprimorados para atingir uma nota mais elevada. A utilização de equipes externas independentes de avaliação e de benchmarks (parâmetros) internacionais permite situar a instituição em relação a outros países, de forma objetiva e insuspeita. Ao mesmo tempo, a interpretação correta dos resultados possibilita identificar instrumentos capazes de conduzir ao objetivo proposto – que é a busca permanente da excelência.

Essas escalas já foram aplicadas em vários países, o que permite uma comparação do desempenho de forma semelhante a testes internacionais como o PISA. A diferença é que no PISA o que se avaliam são os resultados dos alunos. Já nas instituições de Educação Infantil o que se avaliam são estruturas e processos realizados no dia a dia.

No Brasil, as escalas ITERS-R (0 a 30 meses) e ECERS-R (30 a 60 meses) também já foram aplicadas em instituições públicas de educação infantil por pesquisadores da Fundação Carlos Chagas. No entanto, esse estudo não é comparável com as pesquisas internacionais já que os pesquisadores brasileiros modificaram a escala de avaliação, estabelecendo uma pontuação de 1 a 10 em contraponto à escala de 1 a 7, utilizada nos estudos internacionais.

O Instituto Alfa e Beto baseia seus projetos e intervenções em evidências científicas robustas e acredita que a gestão da Educação deve acontecer no ciclo Planejar/Executar/Avaliar/Rever. Escalas como estas apresentadas acima permitem avaliar o trabalho e devem possibilitar a revisão, a melhoria. Elas não são um fim em si mesmas. Entretanto, são instrumentos úteis e necessários para  buscarmos excelência na qualidade da Educação Infantil ofertada às nossas crianças.

Você gostou desse tema? Que outro assunto você gostaria de conhecer melhor aqui no nosso blog? Deixe seu comentário abaixo!

 

1 COMENTÁRIO

  1. Muito pertinente o tema, pois acredito que uso das escalas podem ser importantes para avaliações de dirigentes, diretores escolares, bem como para pesquisas. Como tenho interesse na utilização, gostaria de saber como posso conseguir material para treinamento para aplicar a escala? Obrigado!