Novo estudo comprova eficácia de método fônico na alfabetização

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Um estudo lançado no mês passado pela Universidade Stanford (EUA), uma das instituições mais renomadas do mundo, comprova a vantagem do método fônico de alfabetização sobre outras técnicas de ensino. O estudo, de co-autoria de Bruce McCandliss, professor da de Pós-Graduação Escola de Educação e do Instituto de Neurociência de Stanford, fornece algumas das primeiras evidências de que uma estratégia de ensino específico para a leitura tem impacto direto no cérebro. Segundo a pesquisa, leitores que aprendem as relações entre letra e som por meio do método fônico de ensino têm melhor avanço na leitura do que quando tentam aprender a identificar palavras inteiras.

Isso significa, por exemplo, que  ensinar o som das letras que formam a palavra GATO produz mais conexões cerebrais do que quando as crianças são instruídas a memorizar essa palavra. “A pesquisa é emocionante porque utiliza a neurociência cognitiva e a conecta a questões com significado profundo para a história da pesquisa em educação”, disse McCandliss em entrevista ao site de notícias de Stanford. A pesquisa contou também com a coordenação de Yuliya Yoncheva, da Universidade de Nova York, e Jessica Wise, estudante de pós-graduação da Universidade do Texas, em Austin, ambas nos Estados Unidos.

Publicado na revista Brain and Language, o estudo partiu de uma nova linguagem escrita e buscou ensiná-la a um grupo de 16 adultos, sendo que uma parte foi ensinada a partir de um método de instrução fônico e a outra parte com um método de associação de palavras inteiras. Depois de aprender várias palavras sob ambas as abordagens, as palavras recém aprendidas foram apresentadas em um teste de leitura, enquanto as ondas cerebrais foram monitoradas.

Segundo os exames, a resposta cerebral mais rápida para as palavras recém aprendidas foi influenciada pela técnica de ensino. Aquelas palavras que foram aprendidas pelo método fônico induziram a atividade neural do lado esquerdo do cérebro, que engloba as regiões visuais e de linguagem. Em contraste, palavras aprendidas através de associação da palavra inteira mostraram atividade de processamento no hemisfério direito. McCandliss observou que o forte engajamento hemisfério esquerdo durante o reconhecimento de palavras é uma característica marcante de leitores qualificados. Segundo o pesquisador, os resultados reforçam a ideia de que a forma como um aluno concentra sua atenção durante a aprendizagem tem impacto profundo sobre o que é aprendido.

Não é a primeira vez que um estudo comprova a superioridade do método fônico em relação a outros métodos, especialmente com alunos que apresentam dificuldades de leitura. Em 1990, a pesquisadora americana Marilyn Adams publicou uma revisão da literatura disponível desde 1960 e constatou que esses estudos revelavam a importância da consciência fonológica e fonêmica como fatores associados a fatores fortes de predição do sucesso da alfabetização. Assim, Adams conclui que métodos fônicos, que usam a associação fonema-grafema, quando implementados de maneira sistemática e explicita, são mais eficazes do que os outros.

No ano 2000, a alfabetização também foi tema nos Estados Unidos do National Reading Report Painel. O levantamento partiu de uma análise de 100 mil outros estudos e se concentrou em uma amostra de 68 pesquisas relevantes, que incluíam milhares de crianças, e ofereceram a conclusão de que os métodos fônicos são mais eficazes do que os outros.

De modo geral, ficou comprovado que o método funciona melhor para os que têm mais dificuldade, ajudando a desenvolver competência de compreensão e aprendizagem da ortografia e é mais impactante para as crianças de nível econômico mais baixo. Ainda segundo esse levantamento, não basta apenas usar qualquer método fônico, o melhor é o fônico sintético, que apresenta as relações de fonema e grafema de forma sistemática e explícita.

No Brasil, em 2003, a Câmara dos Deputados organizou um grupo de estudos que buscou produzir uma análise rigorosa das evidências científicas mais atualizadas sobre o tema elaborada conjuntamente por uma equipe de cientistas nacionais e internacionais, que contou com a participação e coordenação de João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, além da participação de Marylin Adams, Roger Beard, dentre outros. O trabalho resultou no relatório intitulado Alfabetização infantil: novos caminhosJá em 2011, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) produziu o relatório Aprendizagem Infantil, que também aborda as evidências científicas mais relevantes a robustas a respeito da alfabetização. O trabalho contou com a participação de diversos pesquisadores brasileiros, entre eles o presidente do Instituto Alfa e Beto.

Saiba mais sobre a recente pesquisa da Universidade Stanford (apenas em inglês).

 

10 COMENTÁRIOS

  1. Bom dia, sou professora do ensino fundamental I, mas sempre atuei nas salas do 5º ano, conheci o método fônico, quando meu filho estudou com o material do alfa e beto no 2º ano, na época gostei do material, porém quando conheci o material da Amália Simonetti,, para o 1º ano, confesso que não acreditei que alguém aprendesse daquela forma e com aquela cartilha, então pesquisei um pouco sobre a proposta de Alfabetização e Letramento e acabei convencida de que é a melhor forma. Achei a pesquisa mt interessante mas na época que o meu filho estudou através do método fônico, sentia falta justamente do que hj chamamos de Letramento (lê e interpretar diversos tipos de texto).

  2. Interessante o uso das técnicas de neurociência para levantar essas evidências, mas me parece questionável a referência de comparação ser “… um método de associação de palavras inteiras…” e feito com adultos… Na experiência brasileira, para ambos aspectos, temos referências bem distintas:
    – para adultos, o método das palavras geradoras, de Paulo Feire;
    – e para crianças, a abordagem construtivista baseada na epistemologia genética de Jean Piagete desenvolvida por Emília Ferreiro para a psicogênese da língua escrita…
    Fica aqui a sugestão de buscar pesquisas que analisem o método fônico comparativamente a esses dous outros cenários da nossa realidade…

  3. Tenho 63 anos … Portanto , fui alfabetizada aprendendo as sílabas …. Repetindo-as , escrevendo-as …. A carta de A B C não trazia ilustrações …. Mas funcionou muito bem ! Não sei precisar quando se deu o ESTALO ( a capacidade de ler ) mas foi um processo de descoberta paulatino , eficaz ! Leio com fluência , creio que uso bem a pontuação , falo com desenvoltura , leio sempre … O que me interessa…. Uso razoavelmente algumas novas tecnologias de comunicação …. Enfim , tenho motivos para concordar com a pesquisa !!!

  4. Sou professora há 30 anos e há 29 conheci o método fônic, no CIEP ondei iniciei minha carreira no magistério. Foi uma descoberta fantástica!
    Hoje, eu e minha irmã temos uma escola “Centro Educacional de Guapimirim” que desde a sua fundação (1990), utiliza o método fônico, com muito sucesso.
    Feliz com a matéria que comprova a eficácia!
    Um abraço.

  5. Pergunto: Quando e quem terá a coragem necessária para ensinar o método fônico aos professores e alunos de pedagogia? A educação brasileira é ideológica e ideologizada. A alfabetização chamada global não alfabetiza e este é o motivo de termos tantos analfabetos funcionais nas universidades e no mercado de trabalho. Quem vai ter coragem de virar a mesa? Quem vai ter coragem de desbancar Emília Ferreiro e os equivocados educadores da esquerda brasileira? Precisamos mudar. Precisamos de ciência na educação.

  6. Sou professora de educação infantil com idade entre 5 e 6 aninhos, também trabalhei com primeiro ano, crianças com 6 anos de idade, quando iniciei meu trabalho com o primeiro ano, tive a oportunidade de conhecer e realizar um curso pelo Instituto Ayrton Sena em Porto Alegre RS, onde o objetivo era chegar ao final do ano letivo com 100% das crianças lendo fluentemente, e acreditem que trabalhando como foi nos passado durante o curso, com o método fônico, sempre consegui atingir os objetivos . Por isso concordo com o artigo . Hoje após ter concluído uma pós em Educação inclusiva, onde conheci o método das Boquinhas,afirmo com comprovação que é o melhor! Tenho alunos com cinco anos, lendo, sem cobranças, usando este método e os jogos na educação infantil, estou alfabetizando Brincando, meus alunos adoram e eu me encanto com os progressos obtidos.

  7. Sou professora e fonoaudióloga. Fui alfabetizadora durante dezenove anos e achei a pesquisa tendenciosa e um pouco preconceituosa. A sustentação da leitura não está apenas na consciência fonológica, mas também na memória de trabalho e no acesso lexical. Assim, acredito que a partir da palavra possa se chegar aos fonemas, mas antes se faz necessário significar e ser significado…Quanto a frase “é mais impactante para as crianças de nível econômico mais baixo”…penso que todas as crianças passarão pelo mesmo processo de aquisição de leitura e de escrita, mas de formas e tempos diferenciados, e com as devidas adequações. Desta forma, acredito que o nível econômico não seja relevante, mas sim o papel que a leitura e escrita exerce na vida destas.

  8. Sou fonoaudióloga e acredito que somente o método fônico alfabetiza com eficiência. Tenho um livro publicado no assunto: Alfabetização pelo método fônico ( Sistema Maxi de Ensino ). Há várias cidades no interior de SP que acreditam no fônico como o método superior rm alfabetização.