Promovendo a igualdade entre meninos e meninas na educação

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Para competir na chamada economia cognitiva, os países precisam desenvolver o potencial de todos os seus cidadãos, garantindo que homens e mulheres desenvolvam suas habilidades e encontrem oportunidades para usá-las de forma produtiva. Porém, levantamentos realizados em níveis nacional e internacional mostram que ainda há barreiras para a plena participação das mulheres nessa missão e que as impedem, muitas vezes, de progredirem nos estudos e na carreira – principalmente em áreas ligadas à Matemática.

Os resultados da avaliação mundial PISA 2012 da OCDE mostram que, mesmo que alguns países como Finlândia, Grécia, Macau (China), Rússia e Suécia tenham conseguido reduzir as diferenças no desempenho escolar entre meninos e meninas, as disparidades persistem na maioria das nações. Na média dos 63 países investigados no exame, estudantes de 15 anos do sexo masculino obtiveram cerca de 16 pontos a mais em Leitura, Matemática e Ciência que as estudantes do sexo feminino da mesma idade – o equivalente a cinco meses a mais de aulas. Quando observado apenas Matemática, a diferença chegou a 20 pontos.

Outro relatório, publicado nesta semana pelo Instituto Unibancoanalisou os dados dos alunos brasileiros na Prova Brasil e no SAEB, e concluiu que ao final da primeira etapa do Ensino Fundamental, 42,2% dos meninos têm nível de aprendizado considerado adequado, enquanto entre as meninas a taxa é de 40,4%. No 9º ano, essa diferença cresce para 3,6 pontos percentuais e no Ensino Médio é de 5,2 pontos.

As diferenças de desempenho na escola acabam se refletindo na escolha da carreira: em áreas como Educação e Saúde, mais de 70% dos graduados são mulheres. Já em Engenharias e Ciências da Computação elas não ultrapassam os 32%. Os dados mostram que apesar de maior participação das mulheres em todos os níveis de ensino os avanços não são suficientes para garantir espaço em áreas consideradas estratégicas para o país, como Engenharias e Tecnologias.

Vale lembrar que, como mostrado no Boletim IDados da Educação N.2, lançado recentemente pelo Instituto Alfa e Beto, o desafio de atrair os jovens em geral para áreas exatas é grande, decorrente principalmente da má qualidade da educação. De acordo com uma análise rigorosa dos dados do ENEM 2014, chama a atenção a concentração muito maior de alunos nos níveis mais altos na prova de Ciência Humanas (45% nas redes estaduais e 81% nas redes privadas). Uma possível explicação é que essas provas requerem mais habilidades intelectuais gerais, que dependem do nível intelectual do aluno e seu ambiente do que conhecimentos específicos, que dependem mais da qualidade do ensino e do esforço de aprendizagem, como é o caso das Ciências Exatas.

Solucionando o problema na origem

De acordo com os relatórios da OCDE e do Instituto Unibanco, as meninas relataram ter menos autoconfiança em sua habilidade para resolver problemas de Matemática e eram mais propensas a expressar fortes sentimentos de ansiedade em relação à disciplina, fatores que têm impacto negativo no aprendizado. Quando são comparados estudantes com nível igual de autoconfiança e ansiedade, a desigualdade de resultados entre meninos e meninas desaparece.

Essa evidência demonstra que gestores e professores precisam refletir sobre como suas expectativas e práticas cotidianas podem estar reforçando estereótipos e limitando o potencial das meninas para as Exatas. Além disso, as famílias também precisam atuar para estimular à maior participação feminina em carreiras dessas áreas.

Segundo a OCDE, em todos os países pesquisados os pais estavam mais propensos a esperar que seus filhos, mais do que suas filhas, trabalhassem em um campo da Ciência, Tecnologia, Engenharia ou Matemática. E esse padrão persistia mesmo quando as meninas apresentavam bom desempenho acadêmico em Matemática. Ampliar o incentivo familiar aos estudos e, posteriormente, ao ingresso em carreiras ligadas a essas áreas é, ainda, a melhor forma de reverter essa situação.

Os meninos são mais inteligentes do que as meninas?

Você já deve ter ouvido por aí “teorias” de que os meninos possuem QI (Quoeficiente ou Coeficiente de Inteligência) mais elevado do que as meninas. E que isso poderia explicar uma maior representatividade masculina nas carreiras exatas, como Engenharia e Matemática, consideradas mais “difíceis”.

Lançada recentemente, uma série de artigos publicada neste blog, vem se dedicando semanalmente a investigar o desenvolvimento da inteligência. Um dos temas da nossa série será a diferença entre homens e mulheres. As evidências são claras: embora os resultados das mulheres sejam diferentes dos resultados dos homens em várias dimensões do QI, as conclusões dos estudos a respeito da diferença de inteligência entre sexos não tem nenhum fundamento!

Não perca! Acompanhe nossa série aqui


*O Boletim Aprendizagem em Foco, do Instituto Unibanco, considerou ‘adequado’ o desempenho de alunos na Prova Brasil e Saeb a partir de uma escala delineada pelo Movimento Todos Pela Educação.

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