Quatro práticas que devem ser retomadas para uma plena alfabetização

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Abolidos das escolas brasileiras, instrumentos pedagógicos como a memorização, a caligrafia, a cópia e o ditado são práticas necessárias e reconhecidas para melhorar o desempenho dos alunos e garantir sua plena alfabetização.

Cada vez mais a ciência cognitiva mostra a necessidade de retomar essas práticas para aprimorar a aprendizagem dos estudantes. Nos livros mais recentes sobre como garantir melhor aprendizado, muitos deles nas listas de mais vendidos em vários países, práticas como memorização e caligrafia surgem como aliados para uma aprendizagem mais longa e duradoura.

Longe de retomar as práticas mecânicas que marcaram a vida escolar de muitas pessoas, esses instrumentos ressurgem como aliados pedagógicos. Não para punir o aluno que não escreveu direito ou não decorou um verso, mas sim para ajudá-lo a fixar melhor os conhecimentos e fazer uso deles quando necessário.

Confira a seguir as vantagens de cada uma dessas ferramentas e entenda por que elas deveriam ser retomadas para uma plena alfabetização:

 

Memorização

Já se vão anos que não se fala mais em decoreba. Ninguém, pedagogo ou não, duvida dos malefícios de uma educação centrada em decoreba, em que o único esforço intelectual do aluno consiste em recitar textos memorizados. Mas se memorizar perdeu seu espaço na escola brasileira, certamente não o perdeu na sociedade nem em escolas de outros países. Artistas continuam memorizando seus textos, jovens continuam decorando centenas de músicas em português e idiomas estrangeiros, programadores de softwares decoram sequencias de códigos etc.

As evidências da ciência cognitiva mostram que exercícios de memória são os melhores antídotos contra a degeneração das capacidades intelectuais. A falta desses exercícios, ao contrário, contribui para diminuir as capacidades de atenção, registro e raciocínio.

Independentemente de sua utilização prática, memorizar textos continua sendo um importante e saudável mecanismo de fortalecimento na memória. O erro não está em memorizar, mas sim em considerar a memorização como um substituto para o processo de raciocínio, análise e crítica.

 

Caligrafia

Muitos não sabem, mas a caligrafia ainda é ensinada em escolas de todo o mundo, porém, cada vez menos do Brasil. Ainda que recentemente a Finlândia, país com um dos melhores sistemas educacionais do mundo, tenha reduzido a carga horária de atividades de caligrafia em suas escolas, a prática ainda é considerada importante para o processo de aprendizagem.

A caligrafia deixou de ser ensinada nas escolas brasileiras por inúmeros fatores, desde falta de tempo diante da quantidade de conteúdo previsto nos currículos escolares, até por ideologia, que considera a caligrafia algo mecânico e não objeto a ser ensinado. Muitos pedagogos, professores e secretarias de ensino se deixaram levar pelo equívoco de que cada pessoa tem um tipo de letra, e, por isso, caligrafia não deve ser ensinada. Porém, escrever é um ato de comunicação e, quanto melhor a comunicação, menor a ambiguidade.

Há evidências de que a escrita manuscrita também cria novas conexões que trazem vantagens importantes para a escrita e para a leitura. Uma delas tem a ver com a atenção. A escrita manuscrita estimula a atenção concentrada na tarefa, mesmo depois que automatizamos a forma visual das letras. A escrita manuscrita também está fortemente correlacionada com o desempenho ortográfico. E este, por sua vez, está associado a uma maior compreensão do que lemos.

 

Cópia

Dentre os instrumentos pedagógicos mais criticados, a cópia com certeza está no topo. Assim como a caligrafia e a memorização, ela foi usada da maneira errada por anos, e causou traumas em muitos estudantes. Mas quando usada como reforço para compreensão de padrões ortográficos e com objetivos claros, a cópia é incentivada.

Vejamos alguns exemplos de como ela ainda é necessária na vida escolar: o professor escreve na lousa as instruções para o dever de casa, o aluno precisa copiar; o aluno faz um trabalho, revê e precisa passar a limpo, para isso, precisa copiar novamente; os alunos ditam uma história e o professor escreve no quadro, em seguida a turma copia a história contada coletivamente para o caderno; e assim por diante. São atividades corriqueiras da prática cotidiana que exigem a cópia – mas que acabou de lado por ser apenas lembrada como a cópia de intermináveis textos da lousa.

Outra vantagem que a ciência mostra é que ao fazer uma cópia o cérebro ativa mecanismos de revisão, fazendo com que o aluno identifique melhor os erros em sua escrita. O exercício de cópia atenta ajuda não apenas na melhoria da escrita, mas também no comportamento leitor.

 

Ditado

As razões que levaram o ditado a ser abandonado como instrumento pedagógico são semelhantes às razões que levaram à proscrição da memorização, caligrafia e cópia: o seu mau uso. Os ditados foram usados, e ainda são, para dar nota de ortografia. Algo parecido com uma seção de tortura e nada pedagógico. Essa prática precisa realmente ser abolida.

A pedagogia do uso do ditado é outra. Ele é um dos instrumentos mais eficazes para desenvolver competências do segundo nível de escrita: o nível da palavra. É razoável que o aluno troque palavras, como ao por au, ele por eli, bolo por bolu etc.

Para que o aluno seja encaminhado a uma escrita correta por meio do ditado, essa ferramenta deve ser usada como uma solução de problemas. O ditado torna-se um jogo, uma situação-problema. E deixa de ser uma atividade mecânica de correção ortográfica. Diversas técnicas podem transformar o ditado em um jogo empolgante e divertido, basta criatividade do professor.

 

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 As informações deste texto foram extraídas do livro Alfabetização de Crianças e Adultos – Novos Parâmetros, uma publicação do Instituto Alfa e Beto.

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