Censo e a falta de senso

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Escola emocional

Nota do Instituto Alfa e Beto:
Este artigo foi publicado originalmente no site Brasil Post

O MEC acaba de divulgar os dados do Censo Escolar de 2013. É preciso senso para entender os problemas e as contradições que os dados revelam.

O que é positivo: no ensino fundamental as matrículas caem. Isso é bom sinal: a população se reduz e, portanto, reduz a demanda. Há menor repetência. Já no ensino médio a matrícula cai porque o pessoal com mais de 18 anos se cansa de uma escola que não faz sentido. Como nem o governo nem a sociedade entendem isso, a resposta está na evasão. Com um mercado de quase pleno emprego, melhor trabalhar do que ser reprovado numa escola inútil. Quase todo mundo que tem entre 15 e 17 anos está na escola — o problema é que milhões desses alunos ainda estão represados no ensino fundamental.

Outra boa notícia: caem as matrículas no EJA (Educação de Jovens e Adultos) — uma fórmula que só dá certo em casos muito especiais. Só um número basta para entender o descalabro do EJA: para cada 3 milhões de matriculados, apenas 10% concluem o curso.

Outro dado incrível: o Brasil já oferece vagas para quase todas as crianças de 4 e 5 anos nas pré-escolas. Pena que elas sejam tão ruins quanto as escolas de ensino fundamental. Em breve vou escrever sobre isso nessa coluna.

Onde há crescimento é que deve ser objeto de preocupação. Crescem as vagas em creches, mas a qualidade aí é ainda muito pior. O Brasil concebe a educação infantil como uma escola antes da escola e reproduz desde a primeira infância o modelo de má escola que temos. E ainda confunde ensino público com escola governamental, discriminando e reduzindo o potencial de contribuição da sociedade, especialmente do setor não-governamental.

No ensino médio continua a incapacidade do governo e da sociedade brasileira de entenderem o que está acontecendo: o ensino médio no Brasil é totalmente disfuncional, não tem nada a ver com o alunado, com a economia e com a sociedade. A única solução conhecida no mundo é a da diversificação, mas a sociedade brasileira continua bacharelesca, acreditando que todo mundo deve ir para a universidade. Trabalho técnico e manual é considerado coisa menor, coisa de escravo. Saída para perdedores. O resto do mundo desenvolvido não pensa assim.

O dado mais grave do censo é o crescimento das escolas de tempo integral. O programa do MEC chamado Mais Educação é o equivalente educacional do “puxadinho”. Ele consegue errar em todas as dimensões:

Primeiro, é uma flagrante violação do pacto federativo: o MEC estimula diretamente a escola a se expandir, ignorando a autoridade estadual e municipal, que ficará onerada com a decisão da escola — merenda, transporte, custos extras.

Segundo, estimula a expansão de um modelo de tempo parcial, que já é economicamente insustentável, para um modelo de tempo integral que será impossível universalizar a esses custos. Ou seja: pequenas belezuras, sem qualquer impacto nos resultados educacionais, que engessarão o futuro.

Terceiro, total incapacidade de pensar, fazer contas e planos antes de agir. O que conta são os números.

Quarto: até o momento, nenhum impacto nos resultados — nem poderia ser diferente.

O Censo está bom. Agora falta senso, especialmente o do tipo bom senso.