Dia dos professores e as eleições

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Escola emocional

Não é preciso ser grande entendido em política ou economia para prever os assuntos que desafiarão o próximo Presidente da República. Dois deles são óbvios, a economia e a reforma política. Mas aqui nos interessa o terceiro grupo, a melhoria dos serviços públicos. E aí entra a educação.

No primeiro turno os três principais candidatos falaram em “valorização do professor” sem entrar muito em detalhes. Os dois candidatos que continuam no segundo turno têm propostas bastante diferentes para o magistério. Ambos acreditam que o governo federal tem um papel importante a desempenhar nessa área. E ambos sabem que enquanto o Brasil não conseguir atrair professores com um perfil diferente do que o que vem ocorrendo nos últimos trinta anos, a educação não irá melhorar de maneira sustentável. Mas estarão ambos igualmente dispostos a enfrentar os desafios de revolucionar a situação do magistério?

Neste dia do professor cabe refletir sobre o tema. O que é preciso fazer para que as escolas tenham bons professores, isto é, professores que consigam ensinar bem os alunos?

Uma política para o magistério inclui pelo menos quatro elementos, que precisam ser abordados de forma consistente. O primeiro deles é sinalizar para os jovens do ensino médio que a profissão é interessante. Quando isso acontecer, jovens mais bem preparados irão procurar a carreira. Para isso acontecer, não basta fazer publicidade ou distribuir bolsas, é preciso tornar a carreira interessante. O segundo é formar professores de maneira adequada, o que requer uma mudança radical nos cursos de formação de professores para a educação infantil, para as séries iniciais e para as séries finais e ensino médio.

O terceiro refere-se ao estabelecimento de condições e regras relacionadas com o estágio probatório – o que requer, entre outras, a formação de um quadro de professores-mentores que sirvam como modelo de desempenho profissional e orientem os jovens em sua nova profissão. A residência médica oferece bons ensinamentos do que se deve e do que não se deve fazer nesse campo. O quarto refere-se à criação de carreiras – ou no mínimo – de assegurar remuneração que seja competitiva com outras ocupações. Aqui o espaço para diferentes propostas é muito grande. Nele se incluem questões delicadas como a avaliação de desempenho e sistemas de incentivo para professores ou escolas. Também se incluem ideias sobre como atrair profissionais de outras áreas para o magistério, ou ideias como as de carreiras temporárias para pessoas dispostas a dedicar ao magistério uma parte significativa de sua carreira.

Alguns aspectos dessa política dependem fundamentalmente do governo federal. Outros poderiam ser induzidas pelo mesmo – por exemplo estimulando Estados e Municípios a desenvolverem e testarem propostas viáveis. Um aspecto particularmente crítico de uma nova política para o magistério consiste nas condições de transição, que permitam aos atuais professores migrarem para as novas carreiras. A outra face desse problema é o que fazer para tornar mais eficazes os professores que permanecerem nas carreiras atuais. Isso será determinante tanto para assegurar a viabilidade econômica da uma nova carreira quanto para assegurar o seu impacto para melhorar a educação.

Este é um projeto para 20 anos, que ainda não foi iniciado, e que não se faz por medidas pontuais. Qual dos dois candidatos você acha que tem melhores condições de iniciar essa revolução?

Este artigo resume algumas das ideias discutidas no livro do professor João Batista Araujo e Oliveira intitulado Repensando a educação brasileira que será lançado no dia 11 de novembro em São Paulo.