Fora da Universidade não há salvação. Ou há?

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Escola emocional

Nota do instituto Alfa e Beto:
Este artigo foi publicado originalmente no site Brasil Post

Todos nós pagamos o alto preço por não sabermos cuidar das coisas que se estragam em nossas casas. E pagamos um preço ainda maior por não conseguirmos pessoas habilitadas para fazer consertos que consertem.

Pedreiro de meia colher. Quebra-galho. Faz-tudo. Essas expressões mostram o descaso que temos, no Brasil, pela formação de profissionais de nível médio. Esse desprezo vem de nossa história – trabalho é coisa de escravo, especialmente em se tratando de trabalho manual. O simples fato de metade dos cursos técnicos serem privados demonstra como o governo tem sido incapaz de entender o problema.

Uma pesquisa realizada pelo IBOPE para a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) mostra que os jovens pensam diferente das autoridades: 90% concordam que quem faz ensino técnico tem mais oportunidades no mercado de trabalho; 82% acham que os salários dos técnicos são melhores, 74% dos empregadores consideram que os alunos dos cursos técnicos chegam bem preparados. Entre os alunos, 61% trabalham na profissão em que se formaram, mas 39% são capazes de adaptar seus conhecimentos para outras profissões. E metade do total de técnicos industriais foi formado pelo Sistema S.

No Brasil, apenas 6% dos jovens faz o curso médio técnico, num país em que 80% dos empregos exigem no máximo o curso médio. Nos países desenvolvidos, em que pelo menos 50% da força de trabalho tem curso superior, cerca de 35% dos jovens curso o ensino médio técnico. O preço disso é obrigar todo mundo a fazer o ensino médio acadêmico – o que tem levado a uma perda superior a 40% dos alunos. E os que chegam ao fim, tendo aprendido pouco e tiverem condição, vão ter que sacrificar mais anos de sua vida para aprenderem uma profissão.

Para o Brasil desenvolver e para as pessoas melhorarem de vida, é necessária uma profunda reforma do ensino médio, criando alternativas fora da camisa de força do vestibular e do ENEM. Mais uma vez, ao insistir no dogma de que fora da Universidade não há salvação, o Brasil marcha na direção contrária do resto do mundo.