Funções executivas: sucesso na escola, na vida

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Escola emocional

Nota do Instituto Alfa e Beto:
Este artigo foi publicado originalmente no site Brasil Post

No artigo anterior, tratamos neste espaço da importância da leitura desde os primeiros anos de vida. Transformar seu filho num ávido leitor, numa pessoa apaixonada por livros e leitura é a primeira importante dose da vacina contra o fracasso escolar.

Hoje vamos tratar da segunda dose: o controle executivo ou controle das funções executivas. O sucesso na escola, e na vida, depende de nossa capacidade de controlar as faculdades mentais que nos permitem aprender, pensar e agir com um pouco de sabedoria e prudência: lembrar dos fatos, organizar os acontecimentos, planejar, agir de forma consistente, avaliar o que fizemos. Não é isso que esperamos de uma pessoa madura?

Um exemplo facilita: a criança aprende a saltar com um pé só segurando um ovo numa colher. São inúmeros músculos e movimentos que ela precisa controlar. Não é à toa que é só lá pelos 5 ou 6 anos que a maioria das crianças consegue fazer isso sem deixar o ovo cair. Ela tem que fazer várias manobras – e evitar outras tantas. O controle das funções executivas é um pouquinho mais complexo, mas nada que seu filho não possa ir aprendendo desde cedo. Vamos à fórmula e aos ingredientes.

A primeira parte da fórmula refere-se a três habilidades básicas: guardar informações na memória, não se deixar distrair da tarefa e ser flexível para lidar com novas situações.

Vacinamos nossos filhos quando os estimulamos a prestar atenção no que estão fazendo ou ouvindo, repetir sequências de atividades em ordem, seguir instruções com 2, 3 ou 4 comandos sucessivos (vá na gaveta, vire a chave, olhe no canto direito e traga a meia preta). Uma atividade mais complexa exige que a criança deixe de fazer alguma coisa para chegar ao resultado: se eu levantar a mão direita você levanta o pé esquerdo; ou mais difícil ainda: se eu disser SIM você fica parada, se disser NÃO você anda. Isso requer que a criança “iniba “o impulso natural. É assim que as pessoas aprendem a pensar e a se controlar – resistindo aos impulsos.

Vacinamos as crianças quando as estimulamos a não prestar atenção a estímulos concorrentes: se estamos conversando, jogando ou lendo juntos, vamos nos concentrar nisso, e não na campainha que toca, na TV ou no celular.

Ensinar a criança a ser flexível é um pouco mais complicado. Só aos poucos ela vai entendendo, mas devemos começar desde cedo. Por exemplo, você diz que a criança tem que seguir um determinado caminho, como se fosse um trilho. Mas, e se vier um trem do outro lado? Ensinar a ser flexível é isso: siga a linha, mas se houver acidentes de percurso, use o desvio, depois retome o caminho. Trata-se de evitar a rigidez, mas sem perder o rumo.

Essas três habilidades se desenvolvem no dia-a-dia da convivência, confiando às crianças pequenas tarefas e desafios de dificuldade crescente, e ajudando a criança a não cair em tentação, não perder o fio da meada. Elas são muito importantes em si mesmas, mas elas também são a base para a segunda parte da vacina: as habilidades de nível superior – planejar, resolver problemas e raciocinar.

Vacinamos nossos filhos contra o fracasso escolar quando planejamos as atividades junto com eles. O que você vai fazer agora? E depois? Com que você vai brincar? O que você vai fazer com esse brinquedo? Durante a brincadeira ajudamos nossos filhos a raciocinar e resolver problemas, estimulando-os a explicar situações (“Como é que o cara tirou essa foto? Como pode esse carro ter ficado nessa posição ou por que essa cor não saiu do jeito que você queria?”). A palavra mágica diante de dificuldades e dúvidas é: vamos procurar, vamos ver como é. E pelo diálogo você estimula seu filho a procurar respostas, sempre proporcionais à capacidade dele, mas sempre atentos para que ele encontre e teste soluções.

Há um provérbio africano que diz que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Educar uma criança é trabalhoso e exaustivo, mas vale a pena. É a melhor herança que podemos deixar a eles, e à nossa espécie.

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