Por que devemos nos preocupar com o desempenho dos alunos brasileiros no Pisa

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A cada três anos, a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) avalia o nível educacional de estudantes de 15 e 16 anos em diversas nações do mundo através de uma prova que mede o desempenho desses jovens em Linguagens, Matemática e Ciências.

O exame, conhecido como Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), foi aplicado a estudantes pela primeira vez em 2000 e desde então vem sendo repetido com alunos de um grupo de nações fixas e outro grupo de nações convidadas, que podem variar. Entre os convidados, está o Brasil, que vem participando direto desde a primeira edição.

O desempenho de nossos estudantes ao longo desses anos foi o tema do Boletim IDados da Educação N.4 – O Brasil no Pisa: a base e o topo, divulgado no final de maio pela equipe de IDados, instituição associada ao Instituto Alfa e Beto dedicada à análise de dados e de evidências sobre a educação brasileira.

Para ajudar a entender melhor o exame e saber como vão os brasileiros nessa prova, o Blog Alfa e Beto entrevistou o pesquisador Guilherme Hirata, responsável pelo Boletim IDados da Educação N.4. Segundo Guilherme, um dos principais desafios da análise foi ir além da divulgação das notas médias dos alunos brasileiros. “Em geral, quando saem os resultados do Pisa, ficamos sabendo como foi o desempenho médio dos alunos, mas a média pode esconder dados importantes”, destaca.

De acordo com o pesquisador, se todos os alunos conseguirem um resultado parecido, a nota média representa bem a amostra, mas se houver muita heterogeneidade de desempenho entre os alunos (como é o caso do Brasil), perde-se informação quando não se olha para os extremos, ou seja, os melhores e os piores alunos. “Isso é o que quisemos destacar neste Boletim”, afirma.

Considerando as notas dos 5% melhores e dos 5% piores alunos no teste, a análise de IDados pode observar quão mal está o nível educacional do Brasil em comparação aos demais países. “O dado mais preocupante que encontramos foi que os 5% melhores alunos do Brasil têm desempenho igual ao de alunos medianos nos demais países avaliados. Isso considerando tanto escolas públicas quanto privadas”, explica.

O Boletim observou como se deu o avanço das notas dos estudantes ao longo dos anos comparando o desempenho em matemática no Pisa com o desempenho em matemática na Prova Brasil. Além disso, conseguiu, através de uma análise da Pesquisa de Amostra de Domicílios (Pnad), estabelecer uma relação entre bom desempenho escolar e acesso à pré-escola. “O que encontramos a partir da análise dos dados é uma associação positiva entre ter frequentado pré-escola quando criança e um melhor desempenho no Pisa quando adolescente. Existe uma literatura acadêmica grande que mostra que o investimento na Primeira Infância determina como vão ser as habilidades cognitivas ao longo da vida. A ideia é que quanto mais investir na Primeira Infância, melhor será o desempenho cognitivo e consequentemente melhor será o desempenho escolar”, explica.

Entretanto, Guilherme explica que não podemos considerar a pré-escola como um efeito causal único para o bom desempenho escolar. “Não se pode dizer, por exemplo, que colocando a criança na pré-escola certamente ela vai ter melhores notas no Ensino Médio. O que notamos no estudo é que vem aumentando o número de crianças na pré-escola desde 2000 e que isso parece se refletir um leve aumento de notas no Pisa ao longo do período”.

O aumento das notas, contudo, não é suficiente para colocar o Brasil entre os países com melhor desempenho educacional. Pelo contrário. Mesmo com essa leve melhora no decorrer desse período, ainda estamos entre os piores do mundo.

O pesquisador destaca que os resultados do Pisa e a análise feita no Boletim IDados da Educação são de extrema importância para entender por que o Brasil não tem avançado em comparação com outros países. “A literatura acadêmica mostra que o resultado dos estudantes, em especial da elite intelectual de um país, tem relação direta com o PIB e o avanço econômico. A elite intelectual precisa estar bem e em nível igual aos dos melhores países para que o Brasil avance de fato”, conclui.

Para saber mais sobre o tema, acesse o Boletim IDados da Educação N.4: O Brasil no Pisa.