Alunos fazem prova toda semana na cidade com melhor rede municipal de ensino fundamental

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Escola emocional

O êxito de uma rede de ensino depende de uma série de fatores, que vão da boa gestão à infraestrutura adequada. Especialistas em educação, no entanto, são unânimes em afirmar que o acompanhamento constante dos alunos é a principal chave do sucesso. “Equidade significa que todos os estudantes, sem exceção, dominam os conteúdos básicos necessários. Isso só é possível aferir por meio de avaliações constantes”, diz Priscilla Cruz, diretora do Todos pela Educação. Distante cerca de 400 quilômetros de São Paulo, o pequeno município de Novo Horizonte parece ter compreendido a lição. Semanalmente, estudantes do 3º ao 9º anos da rede municipal de ensino fundamental realizam simulados nos moldes da Prova Brasil – avaliação do Ministério da Educação (MEC) que mede habilidades e competências em português e matemática. Esse certamente é um dos fatores que faz com que as cinco escolas administradas pela cidade se destaquem das demais redes municipais do país, oferecendo educação de qualidade a todos os estudantes.

Até 2009, o município submetia os estudantes apenas a provas bimestrais, chamadas de Avaliação de Rendimento do Ensino Fundamental (Aref). Com avaliações tão espaçadas, era difícil voltar a tratar em sala de aula os conteúdos nos quais os alunos haviam se saído mal nas provas. “Era um transtorno voltar a aulas dadas havia dois meses. Isso comprometia o bom andamento do bimestre”, diz o secretário municipal de Educação, Paulo Magri. A solução foi instituir, a partir de 2010, provas semanais para as turmas.

Elaboradas pela Secretaria de Educação, as avaliações trazem questões de língua portuguesa e matemática referentes ao conteúdo ensinado na própria semana. O objetivo é claro: verificar se todos os alunos estão aprendendo o que deveriam. Quando mais de 60% da turma não atinge o resultado mínimo esperado, o professor é obrigado a rever o conteúdo em sala de aula. Na semana seguinte, os alunos realizam nova avaliação sobre aquele conteúdo. “Isso garante que nenhum professor vai seguir com a grade curricular sem que os alunos tenham de fato aprendido”, diz Magri.

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP e especialista em gestão educacional, aprova a metodologia adotada em Novo Horizonte. Ele afirma que uma rede de ensino se diferencia das demais se adotar providências ao detectar um resultado ruim em uma avaliação. “Não adianta nada aplicar uma centena de provas e não fazer nada a partir delas”, diz. “Com os resultados em mãos, é preciso pensar em estratégias para corrigir os problemas encontrados.”

Para Ademir Almagro, de 42 anos, professor de história da Escola Municipal Hebe de Almeida Leite Cardoso, a rede de ensino de Novo Horizonte deve se orgulhar do método: “Na rede estadual, quando o aluno vai mal em uma prova, tem uma segunda chance de fazê-la, mas só vai estudar aquele conteúdo se quiser e por conta própria. Aqui, fazemos recuperação de verdade”, diz. Nos casos em que a turma obtém bom desempenho geral, apenas os alunos que apresentam maior dificuldade são destacados para uma aula de reforço em outro período do dia. Eles são, então, convocados a frequentar uma sala batizada de Atendimento Educacional Especializado (AEI). No local, duas psicopedagogas em tempo integral reforçam conteúdos com os estudantes, seguindo a orientação dos professores.

As avaliações semanais são utilizadas exclusivamente para diagnóstico dos alunos. Ou seja, as notas não servem para a produção de rankings de escolas. As notas de cada instituição ficam sob os cuidados do secretário de Educação; diretores de unidades têm acesso apenas a dados relativos às unidade que administram. “Por se tratar de uma rede pequena, às vezes ficamos sabendo das notas de outras classes. Mas não há divulgação oficial ou competição. Essas avaliações são uma ferramenta para o professor aprimorar o ensino de sua turma”, afirma Almagro.

O calendário de provas mudou, é claro, a rotina dos estudantes. E de seus pais. A confeiteira Cristina Luna, de 44 anos, chegou a Novo Horizonte há dois anos e mantém seus quatro filhos matriculados na rede municipal de ensino. Imediatamente, notou a diferença no método de avaliação das crianças. “Antes, eles precisavam estudar menos. Agora, como sabem que serão avaliados toda semana, estão mais ligados. É estudar ou estudar”, afirma.