Doze momentos do Instituto Alfa e Beto em 2015

Trabalhamos juntos mais um ano para transformar a educação no Brasil. Obrigado pelo seu apoio e sua parceria neste ano de 2015.

Em 2016, o Instituto Alfa e Beto completa 10 anos de atuação. Será um ano de novidades, celebração e muito trabalho. Esperamos que vocês continuem conosco através de nosso site e redes sociais, que estarão de cara nova em janeiro.

Aguarde!

Enquanto isso, vamos recordar juntos doze momentos que marcaram nosso trabalho este ano.  E que venha um ano novo com mais novidades.

Boas Festas e Feliz 2016!

 

1 – Guia IAB de Educação Infantil


A Educação Infantil não é uma escola que vem antes da outra. Ela constitui um fim em si mesma e a forma privilegiada da criança aprender é pela brincadeira. Desta percepção nasce a proposta do Instituto Alfa e Beto para a faixa etária de 0 a 6 anos: aprender brincando e brincar aprendendo. Apoiado em sua vasta experiência e de seus profissionais em centenas de centro de Educação, creches, pré-escolas e outras instituições, além da análise exaustiva das melhores práticas disseminadas por diversos países e dos conhecimentos científicos mais atuais sobre o desenvolvimento infantil, o Instituto Alfa e Beto lançou no início de 2015 o Guia IAB de Educação Infantil, que traz nossa proposta para estimular e promover o desenvolvimento das crianças.

 

2 – Prêmio Prefeito Nota 10

premioprefeito

Este ano, o Brasil teve a oportunidade de conhecer quatro redes municipais de ensino que estão conseguindo assegurar educação de qualidade a todos os seus alunos. Essas redes deixaram de lado o conceito de ‘escola-modelo’, em que apenas uma unidade de ensino se destaca por sua excelência, para avançar e garantir bom nível de educação a todas as escolas e crianças. Seus gestores foram reconhecidos pelo Prêmio Prefeito Nota 10, que em sua primeira edição reconheceu quatro prefeitos – Guilherme Sampaio Landim, de Brejo Santo (CE), Otaviano Pivetta, de Lucas do Rio Verde (MT), Antonio Del Ben Jr., de Cerquilho (SP) e Corinha Beatris O. Molling, de Sapiranga (RS). Parabéns a todos os envolvidos. Em 2016, teremos uma nova edição. Aguardem.

 

3 – Manual do Gestor da Educação Infantil

educação

A gestão de uma creche ou pré-escola envolve inúmeros fatores, como crianças em fase de desenvolvimento, pais, professores, funcionários, insumos e diversos outros aspectos que afetam diretamente o dia a dia da instituição. Coordenar todos esses pontos é a missão primordial do gestor escolar. Para ajudar na tarefa, o Instituto Alfa e Beto lançou em maio a publicação Manual do Gestor da Educação Infantil, um guia de trabalho para gestores e coordenadores. Escrito pelo presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Araujo e Oliveira, o livro é direcionado tanto a profissionais em início de carreira quanto aqueles que já estão em cargos de gestão há mais tempo.

 

4 – Guia de Boas Práticas para Transformar a Educação nos Municípios

 

O Guia de Boas Práticas para Transformar a Educação nos Municípios se destina a Prefeitos que queiram deixar a sua marca na educação de seus municípios e integra as ações relacionadas com o Prêmio Prefeito Nota 10. O guia carrega o princípio de que rede de ensino de qualidade é aquela em que o prefeito pode dizer  a seus eleitores: matricule seu filho em qualquer escola pública que eu garanto que ele terá o mesmo padrão de ensino. Se você deseja essa rede de ensino em seu município, compartilhe esse guia com o prefeito e o secretário de educação.

 

5 – VIII Seminário Internacional

seminário internacional

 

Ensino da língua e formação de professores. Esses foram os dois temas abordados por Roger Beard, professor e pesquisador de Universidade de Londres, nos dois dias do VIII Seminário Internacional do Instituto Alfa e Beto, que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro entre os dias 13 e 14 de agosto. O evento reuniu mais de 200 convidados e debateu as principais evidências sobre o ensino da leitura, escrita e gramática e o processo de formação de professores dos países que mais se destacam em educação. O Seminário está disponível na íntegra e pode ser visto em nossa página do YouTube.

 

6 – Livro Ensino da Língua: o que dizem as evidências

 

O livro Ensino da Língua: o que dizem as evidências traz novas evidências e provocações sobre o que é necessário para garantir que as crianças aprendam a ler e a escrever, e é destinado a professores de Língua Portuguesa, especialistas em currículos, coordenadores pedagógicos e educadores de modo geral. O material foi escrito pelo professor Roger Beard, docente da Universidade de Londres e um dos mais renomados estudiosos do tema. Além de responder às dúvidas apontadas no Seminário, o pesquisador também apresenta ao leitor referências bibliográficas riquíssimas que ajudam a compreender melhor os desafios do ensino da língua.

 

7 – Concurso Galáxia Alfa na Minha Escola

galáxia alfa

 

Entre os meses de junho e julho deste ano, organizamos o Concurso Galáxia Alfa na Minha Escola, que destacou projetos de alfabetização feitos por educadores de todas as regiões do país com a ajuda do aplicativo Galáxia Alfa. Com 443 votos, a vencedora do concurso foi Silvana Cristina Gonçalves Guarda Lara de Lima, professora do 1º ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Pedro I, de Nova Ramada, no Rio Grande do Sul. Ela viajou com uma acompanhante para o Rio de Janeiro e acompanhou o VIII Seminário Internacional do Instituto Alfa e Beto, com participação do pesquisador inglês Roger Beard.

 

8 – Livro Alfabetização: em que consiste e como avaliar

programa de incentivo à leitura

 

Lançado em setembro, este livro apresenta as respostas a cinco perguntas que foram apresentadas aos quatro palestrantes do VII Seminário Internacional do Instituto Alfa e Beto realizado em Belo Horizonte em 21 de Agosto de 2014. Os quatro palestrantes responderam  a cinco perguntas sobre alfabetização, que servem de mote para debater o tema através de evidências. As respostas mostradas no livro são  oportunas e importantes, particularmente no momento em que o país discute um currículo nacional e terá de enfrentar os seus desdobramentos em temas importantes como o são a avaliação, a formação de professores e as políticas relacionadas com livros e materiais didáticos.

9 – IX Seminário Internacional

escola é importante?

 

Realizado em Brasília no início de novembro, o IX Seminário Internacional IAB debateu à luz das evidências científicas questões que fazem parte do debate educacional atual: quão importantes são os fatores familiares para explicar o desempenho dos alunos? Estabelecer sanções para escolas com baixo desempenho contribui para melhorar os resultados? Qual modelo pedagógico é mais apropriado? Esses questionamentos foram comentados pelo palestrante Gregory Elacqua, economista principal da divisão de Educação do Departamento do Setor Social do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e pelo professor José Batista Araujo e Oliveira. O evento também serviu para apresentar as duas últimas novidades do ano, que destacamos nos dois tópicos abaixo:

 

10 – Livro Educação Baseada em Evidências: como saber o que funciona em educação

 

escola é importante?

Há evidências e ponderações científicas que devem ser levadas em conta por todos aqueles que tomam decisões que afetam a vida dos alunos. Essas evidências são apontadas no livro Educação Baseada em Evidências: como saber o que funciona em educação, escrito pelo presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, o economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Gregory Elacqua, e os pesquisadores Micheline Christophe e Matias Martinez. O objetivo é ilustrar como os pesquisadores formulam suas perguntas, obtêm e analisam os dados e chegam às suas conclusões – sempre provisórias e cercadas de cautelas. O livro foi lançado durante o  IX Seminário Internacional do Instituto Alfa e Beto.

 

11 – IDados

O Instituto Alfa e Beto anunciou em novembro o lançamento de sua nova frente de atuação: o IDados, que vai oferecer análises educacionais a partir de informações e dados públicos com o objetivo de promover debates qualificados sobre o tema na mídia e em meios acadêmicos e empresariais. O anúncio da iniciativa foi feito durante o IX Seminário Internacional do Instituto Alfa e Beto. O IDados oferecerá boletins educacionais periódicos sobre temas referentes à educação básica, profissionalizante e superior. O material será disponibilizado gratuitamente na internet. O Boletim número 1,  sobre o IDEB, já está no ar. Em breve, publicaremos o segundo lançamento do IDados. Fique de olho.

 

12 –  Instituto Alfa e Beto em VEJA.com

coluna do instituto alfa e beto

 

Para fechar um ano cheio de realizações, o Instituto Alfa e Beto lançou no site VEJA.com a coluna Educação em Evidência, assinada pelo presidente do Instituto, João Batista Araujo e Oliveira. O espaço é atualizado quinzenalmente e destaca, como o nome sugere, evidências do que funciona – e do que não funciona – em educação, debatendo os desafios do ensino público brasileiro. Clique aqui  para acessar a coluna.

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Foi um longo e produtivo ano. Obrigado a todos que compartilharam com conosco essas conquistas.

Em 2016, voltamos com novidades!

Estratégias de ensino de gramática baseadas em evidência

Apesar de ser um componente central língua, tanto escrita quanto falada, a gramática tem sido cada vez menos ensinada aos alunos e seus professores. Muito disso se deve a uma ideia propagada na década de 1960, primeiro na Inglaterra e Estados Unidos e com reflexos também no Brasil, de que as escolas não deveriam ensinar gramática, defendendo, em seu lugar, uma ideia de ensino da língua como instrumento de crescimento pessoal.

Cerca de 20 anos depois, um documento assinado por pesquisadores ingleses mostrava que, na realidade, a referência gramatical fornece um tipo de agilidade na escrita que ajuda o escritor a evitar frases demasiadas longas e inconclusivas. Desde então, tem sido crescente o pensamento, entre pesquisadores e especialistas, de que seu ensino nas escolas representa um potencial incalculável, especialmente se for ministrado de uma forma que reflita os usos contemporâneos da língua.

Essa mudança no pensamento científico é relatada no livro Ensino da Língua: o que dizem as evidências, publicação do Instituto Alfa e Beto produzida pelo pesquisador e professor inglês Roger Beard a partir de sua participação no VIII Seminário Internacional do Instituto Alfa e Beto. No livro, Beard revela como as evidências têm mostrado que a gramática se faz imprescindível e deve ser trabalhada em conjunto com a alfabetização. Beard ainda afirma que atualmente os principais questionamentos sobre esse ensino estão mais preocupados com o “o quê?” e, especialmente, o “como?” ensinar.

O livro traz ainda recomendações de como ensinar as crianças a trabalhar com pontuação; como avançar na escrita, passando de frases simples para frases complexas; e como estimular os alunos a aprimorar o texto através da releitura.

Segundo Beard, linguistas britânicos sugerem algumas técnicas simples para ajudar os alunos a aumentar a sua consciência a respeito da variação sintática. De acordo com o especialista, essas estratégias de ensino são eficazes porque não estão centradas em fazer o aluno decorar regras e classes gramaticais, mas sim em compreender a função gramatical de palavras em cada contexto. As técnicas são abordadas com mais detalhes e exemplos no terceiro capítulo do livro (a partir da página 116). Abaixo, mostramos uma das técnicas apresentadas, chamada pelo autor de “combinação de frases”. Confira:

Há possibilidades que podem ser usadas como oportunidades para gerar interesse em discutir regras gramaticais. Trata-se da estratégia de combinar frases. As evidências sobre o uso dessa técnica sugerem que elas ajudam a desenvolver a competência da escrita, bem como fornecem insights sobre a estrutura gramatical. Em cada um dos exemplos abaixo, a primeira frase é a forma como o problema é apresentado ao aluno; a segunda frase é uma resposta aceitável.

estrategias gramatica

 

Há várias formas de participação dos empresários na educação

O que faz um bom professor?

Nota do Instituto Alfa e Beto:
Este artigo foi publicado originalmente no jornal Diário de Pernambuco

Fui convidado a refletir a respeito do papel dos empresários em relação à educação. Não se trata de privatizar a educação, trata-se de saber qual o seu papel, se o estão cumprindo, se está dando resultado e, se positivo, por que eles ainda reclamam tanto de que as pessoas que chegam para trabalhar não estão preparadas.

Há várias formas de participação dos empresários na educação: ações diretas, voltadas ou não para locais e interesses imediatos das empresas; doações, trabalho voluntário e parcerias de vários tipos, como as do Instituto Constelação; iniciativas como a do ICE- Instituto de Co-responsabilidade Empresarial – que viabiliza formas economicamente viáveis de provisão de ensino médio de qualidade. Há também o trabalho feito pelas entidades do Sistema S – o Brasil acaba de ganhar o primeiro lugar da Workskills realizada em São Paulo. E há o treinamento e desenvolvimento de pessoal realizado pelas próprias empresas.

Mas isso não está resolvendo o problema da educação, nem particularmente assegurando mão de obra qualificada para fazer o país crescer. Vejamos por quê. O desenvolvimento econômico depende da produtividade. Esta pode ser aumentada pela dosagem adequada entre investimentos em capital físico e infraestrutura, tecnologia e recursos humanos. Na sociedade do conhecimento o investimento adequado em recursos humanos é o que dá melhores rendimentos.

Vejamos como anda a produtividade. No Brasil ela está praticamente estacionária – e nossa população está envelhecendo e o crescimento está se estagnando. Comparação com os Estados Unidos: nos últimos vinte anos, dois terços do crescimento da produtividade norte-americana se deveu ao aumento da produtividade dos recursos humanos.

Os empresários são realistas. Ao invés de chorar o leite derramado eles adequam seus investimentos e tecnologias à mão de obra disponível – ou a trazem de fora, como no caso da construção de Suape. Mas há um armadilha nessa acomodação – e isso é conhecido pelo nome de “armadilha das baixas habilidades”: o setor produtivo se ajusta à qualidade da mão de obra disponível, mas num nível mais baixo de sofisticação tecnológica. Não é a toa que o grosso da exportação brasileira é constituído de produtos agrícolas e outros de baixo valor agregado.

Empresários reclamam: os que chegam para trabalhar não estão preparados. Mas se recusam a admitir pessoas sem experiência, seduzem pessoal qualificado dos concorrentes inflacionando salários e investem muito pouco em treinamento. Educadores afirmam que sua função não é preparar mão de obra e sim, cidadãos conscientes e críticos. Há convergências possíveis? É este o debate que precisa ser travado – educação e produtividade são como gêmeas siamesas, unidas para sempre.

Livro digital discute o papel da família no desenvolvimento das crianças

Cada vez mais tem se tratado, nas diversas áreas do conhecimento, da importância da promoção do desenvolvimento integral na Primeira Infância, fase da vida das crianças que começa na gestação e termina por volta dos seis anos de idade. No entanto, pouca literatura tem sido produzida no Brasil a respeito da família como promotora desse desenvolvimento.

Buscando preencher essa lacuna, a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) lançou neste mês uma publicação digital e gratuita sobre o papel das famílias no desenvolvimento integral das crianças. O livro, chamado Fundamentos da Família como Promotora do Desenvolvimento Infantil – Parentalidade em Foco*, traz oito capítulos que debatem o conceito de parentalidade nos diversos aspectos da vida das crianças, como saúde, cuidados e educação.

O objetivo da publicação é disponibilizar evidências para auxiliar profissionais que atuam com famílias grávidas e com crianças de até seis anos a empoderá-las em seu papel de cuidar, proteger e estimular o desenvolvimento integral dos pequenos. Como pano de fundo para isso, o livro trabalha com o conceito de parentalidade, um termo adaptado a partir da palavra parenting, da língua inglesa, que se refere ao “conjunto de atividades propositadas no sentido de assegurar a sobrevivência e o desenvolvimento da criança”.

Os especialistas que assinam os textos do livro foram instigados a abordar, de forma multidisciplinar, diversos aspectos da relação família/pais/filhos que envolvem a promoção do desenvolvimento infantil na Primeira Infância. Entre os temas abordados estão:

1. Definições, dimensões e determinantes da parentalidade;
2. O papel das práticas e estilos parentais no desenvolvimento da Primeira Infância;
3. Parentalidade: uma via de mão dupla;
4. Contribuições da participação da figura masculina;
5. Família e desenvolvimento na Primeira Infância: processo de autorregulação, resiliência e socialização;
6. Ações da equipe de saúde da família no fortalecimento de cuidados familiares;
7. Família, escola e Educação Infantil;
8. Família e direitos das crianças.

A FMCSV trabalha pela promoção da Primeira Infância no Brasil e desenvolve diversos projetos na área de capacitação profissional e difusão do conhecimento em Primeira Infância. Entre eles, o Radar da Primeira Infância, um portal desenvolvido em parceria com o Instituto Alfa e Beto onde são divulgados, diariamente, artigos e pesquisas sobre Primeira Infância. O objetivo do Radar é oferecer conteúdo de qualidade e selecionado para profissionais de todas as áreas que atuam no atendimento de crianças e suas famílias.

 

Para saber mais, acesse:

*Download: “Fundamentos da Família como Promotora do Desenvolvimento Infantil – Parentalidade Em Foco”

Radar da Primeira Infância: conteúdo de qualidade para profissionais que atuam com Primeira Infância

Conversar é fundamental: desde o início da vida

Por que o Instituto Alfa e Beto investe na Primeira Infância?

O que é e qual a importância da Primeira Infância

 

IDEB: faz sentido compará-lo a outros indicadores educacionais?

O que faz um bom professor?

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) foi criado em 2007 para monitorar e medir os avanços na qualidade do Ensino Fundamental e Médio no país. As metas do indicador foram estabelecidas com o objetivo de comparar a qualidade da Educação no Brasil com os outros países que participam do PISA – teste realizado pela OCDE em 63 nações e economias representativas, incluindo o Brasil.

Entretanto, há fortes razões para afirmar que essa comparação não é válida. É o que revela o trecho final do Boletim IDados da Educação nº1, publicação lançada em novembro pela nova frente de atuação do Instituto Alfa e Beto. O objetivo do IDados é fornecer dados educacionais para embasar uma análise mais aprofundada da educação no Brasil.

De acordo com as evidências apontadas no Boletim nº 1, nenhum outro país da OCDE adota uma métrica que combina taxa de aprovação com desempenho acadêmico, como é feito no cálculo do IDEB. Portanto, ao comparar os dois resultados, estamos, na verdade comparando dados obtidos com métricas diferentes. Mesmo assim, as metas que foram incluídas no Plano Nacional de Educação (PNE) seguem essa lógica – o que poderia acarretar dificuldades para o Brasil atingir, de fato, um nível de qualidade comparável a outros países da OCDE.

Para entender a disparidade nos dados é preciso considerar que o IDEB e o PISA são exames feitos com amostragens de alunos. Os alunos que fazem o PISA têm idade entre 15 anos e 3 meses e 16 anos e 2 meses. Segundo os dados do Inep (órgão do MEC que cuida do IDEB), menos de 15% dos alunos dos anos finais que fizeram a Prova Brasil, em 2013, tinham a idade nessa faixa.

Outro ponto apontado no Boletim IDados que ressalta a dificuldade de comparação entre os dois índices é o fato de ambas as provas não seguirem os mesmos parâmetros de avaliação. Ou seja, apesar de se basear no PISA, o IDEB não parte dos mesmos construtos na sua elaboração. O Boletim conclui que os pré-requisitos técnicos necessários para a aceitação da hipótese de que o IDEB e o PISA são comparáveis não se verificam. Portanto, não é possível afirmar que exista uma equivalência entre o índice brasileiro e o índice internacional.

Diante dos dados, o Boletim IDados coloca suas questões para debate, que reproduzimos a seguir.

  • Pelas razões demonstradas no texto, não se sustenta a ideia de comparar as notas do IDEB com o PISA. Que justificativa existiria para se manter essa proposta?
  • O estabelecimento das metas anuais para o IDEB é baseado numa equivalência com o PISA que não se sustenta. Além disso, os resultados alcançados até 2013 mostram que é cada vez mais difícil melhorar a nota no IDEB, sendo que, nas séries finais, os avanços têm sido ainda mais lentos. Em que medida a ambiguidade embutida no IDEB não poderia estar estimulando comportamentos de inércia, acomodação ou comportamentos oportunistas? Qual é o sentido de estabelecer metas de maneira arbitrária e sem os devidos instrumentos que viabilizariam sua consecução?

Convidamos nossos leitores a comentar essas questões, pois elas ajudam a entender o funcionamento da educação no país e esclarecer por que, mesmo com tantos planos e metas, ainda é difícil garantir um ensino de qualidade em todas as redes públicas.

 

Como estimular uma criança a gostar de Matemática?

Muitos pais e professores acham que saber Matemática é saber tabuada, fazer contas de cabeça e tirar notas boas. Tudo isso é muito importante, mas é apenas um pedaço da história. Para dar certo na escola e progredir na vida, a criança deve compreender, aos poucos, as formas de raciocínio matemático, a relação entre ideias e conceitos, a razão de utilizar uma determinada regra.

Como nem sempre os adultos tiveram uma boa base de Matemática ao longo da vida, o tema desperta muitas dúvidas, principalmente quando uma criança próxima começa a aprender os primeiros conceitos. Como estimulá-las a gostar de Matemática? Será que elas têm jeito para lidar com os números? E o que fazer se elas demonstram horror à disciplina?

Essas são algumas das perguntas mais frequentes que nos foram apresentadas por pais e professores e que são tratadas, junto com outros assuntos referentes à disciplina, na Coleção Matemática para Pais e Professores, uma publicação do Instituto Alfa e Beto que visa desmistificar a aura de dificuldade que paira sobre a Matemática e mostrar que, com estratégias de ensino correto, é possível que a criança tenha um bom desempenho.

Reproduzimos a seguir sete perguntas e respostas que estão no livro. A Coleção traz ainda sugestões de atividades para fazer em casa e na escola, e mostra como tornar mais prazeroso e eficiente o ensino da Matemática.

 

Tem crianças sem jeito para aprender Matemática?

Sim, algumas crianças demonstram mais jeito ou gosto para a Matemática, da mesma forma que podem demonstrar mais jeito ou gosto pela poesia, literatura, línguas estrangeiras, balé ou música. Mas, praticamente todas as crianças são plenamente capazes de aprender os conteúdos de Matemática previstos para o ensino fundamental.  Algumas aprendem com mais facilidade, outras precisarão se esforçar mais.

 

Como estimular uma criança a gostar de Matemática?

Não existe uma fórmula única, e isso também depende da necessidade de estímulo. Em todo o processo de educação, o educador deve ter como meta transformar estímulos externos em automotivação. O que estimula não são os brinquedos ou programas de computador, é a conversa que você tem com a criança diante das situações. Nos anos iniciais, antes da escola, pais, cuidadores e professores devem mais perguntar do que responder, apresentar situações que estimulem as crianças a fazer contagens, comparações, resolver problemas concretos (quantos objetos cabem numa caixa) etc.  O que mais a desestimula é errar e ficar com medo, com vergonha, ser desmoralizada diante dos colegas. Portanto, a melhor forma de ajudar é acompanhar a criança desde cedo, dia a dia, para que ela adquira base. É a base que dá confiança. Se ela aprendeu até hoje, é provável que amanhã ela também irá aprender.

 

O que se deve evitar ao tentar ajudar as crianças?

O número de erros que cometemos, como pais e educadores, é provavelmente muito superior aos nossos acertos. Isso não deve nos desencorajar. O importante é manter uma relação com as crianças que permita, inclusive, errar. Afinal, ninguém é perfeito. Mas existem alguns erros que são cometidos com muita frequência e precisam ser reparados:

  • Não ter o hábito de conversar com os filhos, de estimulá-los a interagir com você e com outros.
  • Deixar “rolar” para intervir depois.
  • Não estabelecer rotinas de estudo desde o 1º dia da aula.
  • Procurar o culpado (filho, televisão, a Internet, o professor)

 

 Quando deve-se começar a ensinar Matemática?

Desde cedo, desde os primeiros dias de vida. A Matemática é parte da vida. Na conversa do dia a dia, há situações que são estímulos naturais para falar sobre ela. Uma criança de poucos meses já pode ser estimulada a ver a diferença entre dois ou três estímulos, acompanhar movimentos, identificar formas, discriminar pequenas de grandes quantidades, maior e menor, aprender sobre posições, relações entre itens, identificar sequências (antes, durante, depois), tudo isso tem a ver com a Matemática. O importante é estar sempre alerta, aproveitando as situações naturais do dia a dia para despertar o interesse e a curiosidade da criança. Mais importante do que as respostas são as perguntas que você faz e as perguntas que a criança faz.

 

Quais os melhores jogos para desenvolver o raciocínio matemático?

Os melhores jogos são aqueles que desafiam a criança a usar estratégias para solucioná-los, como batalha naval, banco imobiliário, tangram, blocos lógicos, quebra-cabeças, jogos de memória, jogos de detetive etc.

 

O raciocínio matemático ajuda em outras disciplinas?

Sim, dependendo de duas condições. A primeira é se houver necessidade de usar Matemática em outras disciplinas – por exemplo, na aula de ciências ou de física. A outra é no sentido mais geral: se o aluno está acostumado a racionar matematicamente, você pode estimulá-lo a usar o mesmo processo de raciocínio diante de um problema de ortografia (Qual a regra? A regra se aplica a este caso?) ou para organizar uma sequência de palavras (por exemplo, da mais concreta à mais abstrata) ou palavras que pertençam a um mesmo conjunto (por exemplo, vertebrados ou carnívoros). Para haver transferência de aprendizagem é necessário conteúdo, é preciso praticar o processo de raciocínio lógico a uma situação específica. Não existe uma disciplina mágica que, uma vez aprendida, facilita a aprendizagem das demais.

 

O que fazer uma criança ter horror a Matemática?

Guardamos de propósito esta pergunta para o final. Se a situação chegou nesse ponto, seu filho precisa de ajuda especializada.  Mas tenha cuidado, pois há duas circunstâncias que dificultam a ajuda: você (pai ou cuidador) pode ser parte do problema; ou o professor pode ser parte do problema. Se o problema chegou nesse ponto, só resta procurar ajuda especializada, com a coordenação da escola, na comunidade ou junto a profissionais especializados. Quanto antes, melhor.

 

Tem mais perguntas sobre como ensinar Matemática para crianças? Escreva para nós.

 

Universidade da Primeira Infância

O que faz um bom professor?

A Universidade da Primeira Infância engloba as atividades de formação de desenvolvimento voltadas para pais, cuidadores, educadores e outros profissionais da Primeira Infância. O objetivo é desenvolver habilidades que sejam comprovadamente eficazes para promover o desenvolvimento infantil.

Curso de formação  professores tutores

Destina-se à formação de educadores e professores que trabalham em creches e centros de desenvolvimento infantil. O objetivo é formar uma massa crítica de educadores capazes de utilizar com proficiência um conjunto de habilidades que são comprovadamente eficazes para promover o desenvolvimento infantil. Além de serem proficientes, os graduados nesse programa assumem a responsabilidade por orientar o estágio probatório dos futuros educadores que irão trabalhar nessas instituições.

O programa de formação de professores tutores possui dois componentes: um teórico e um prático. O componente teórico é apresentado na forma de um curso inicial de 40 horas e um curso a distância sobre desenvolvimento infantil, que dura aproximadamente 12 meses.

O componente prático se dá na forma de coaching. Nosso grupo de coaches é constituído por uma equipe de psicólogos certificados pela Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, e habilitados a usar o modelo CLASS (Classroom Assessment Scoring System).

O coaching se dá de forma presencial e a distância. A parte presencial ocorre durante as visitas, em que os coaches filmam interações dos professores, dão feedback e promovem reuniões para estimular a reflexão do professor sobre suas práticas, com base nos princípios associados às várias categorias de interação desenvolvidas nesse programa. No coaching a distância, os educadores gravam e enviam os vídeos para o coach, que faz a análise e as reuniões de feedback a distância.

Universidade do Bebê

Trata-se de um programa com o objetivo de desenvolver habilidades parentais que ajudam a promover o melhor desenvolvimento da criança.  O programa completo inclui três etapas, dirigido a grupos distintos.

Gestantes e familiares: O objetivo do curso é fornecer informações práticas para as mães e famílias, que sejam relevantes para assegurar o bem estar físico e psicológico das gestantes, promover o desejo de receber a criança de forma adequada e o desenvolvimento adequado das crianças.

Famílias com crianças de 0 a 2 anos: o objetivo do curso é fornecer informações práticas para as mães e famílias sobre princípios básicos de puericultura e habilidades para promover o desenvolvimento adequado das crianças.

Formação do hábito de leitura desde o berço: o objetivo é desenvolver o hábito da leitura desde cedo, com treinamento parental sobre como ler para e com seus filhos. O programa inclui empréstimo semanal de livros às famílias.

Cada etapa inclui 6 encontros, cada um com 1h30 de duração.

Curso de Formação de Gestores de Instituições de Educação Infantil

O curso abrange os aspectos centrais da vida de uma instituição de educação infantil. Ele é implementado sob demanda e adaptado às circunstâncias locais, inclusive ao nível de formação e experiência dos gestores.

O curso se baseia no Manual do Gestor da Educação Infantil, um livro prático baseado em experiências concretas, a partir da compreensão e interação de quatro componentes: pessoas, tarefas, estruturas e tecnologia. É essa interação que determina os resultados de uma organização.

Recomendações simples – e surpreendentes – para escrever melhor

Assim como ocorre com a compreensão da leitura, a escrita pode ser erroneamente vista como um processo simples, uma espécie de “transposição da fala para o papel”. No entanto, a realidade é mais complexa. Para a escrita acontecer, é necessário o domínio dos sons da fala (os fonemas), que precisam ser transformados em padrões de ortografia (os grafemas). Juntos, os grafemas formarão as palavras e, por isso, a escrita também exige conhecimento do vocabulário da própria língua – algo que começa a ser adquirido antes mesmo da escolarização.

Mesmo dominando esses aspectos ferramentais da escrita, muitos alunos apresentam dificuldades para criar seu próprio texto. E quando se fala em ajudá-los a escrever melhor, não é raro escutar que “o segredo está na prática constante”. Disso, não há a menor dúvida. Entretanto, há outros fatores que são igualmente responsáveis por um bom texto, mas que não estão diretamente ligados ao ato de colocar palavras no papel.

Estes aspectos são apresentados no segundo capítulo do livro Ensino da Língua: o que dizem as evidências, produzido a partir das palestras de Roger Beard, da Universidade de Londres, durante VIII Seminário Internacional do Instituto Alfa e Beto. Na publicação, o especialista em ensino da língua mostra, com base em evidências, o que é importante para o ensino da escrita e revela que, além de muita prática, também é necessário atentar para outros fatores que podem estar interferindo nesse processo, seja em casa ou na escola.

Com base na publicação, traçamos recomendações surpreendentemente simples para ajudar professores e famílias a promover a fluência da escrita entre as crianças. São hábitos que podem começar desde cedo, nos primeiros anos da vida escolar, e serem seguidos por toda a vida.

Na escola: o que fazer antes de colocar os alunos para escrever?

Antes de começar a escrever, os alunos devem ser incentivados a fazer uma reunião de pensamentos, momento conhecido como brainstorming. Pensar no objetivo do texto, traçando um esquema do que será dito no começo, meio e fim é algo que os escritores conceituados também fazem e é essencial para garantir coerência no discurso.

As evidências apontadas pelo professor Beard no livro mostram, porém, que muitas vezes os alunos acabam “escrevendo por escrever”, sem saber exatamente a finalidade do texto. Por isso, um bom trabalho de escrita na escola deve incentivar os alunos a ter três atitudes antes de colocar o lápis no papel – ou os dedos no teclado:

  • Pensar sobre a finalidade da escrita
  • Planejar o quê e como dizer
  • Entender o que o leitor precisa

Em sala, esse brainstorming pode ser feito de maneira coletiva ou individual, oral ou escrita, dependendo do objetivo do professor com a tarefa. O foco deve ser sempre facilitar o processo que virá depois, permitindo que a criança demonstre mais fluência na escrita sem interrompê-la a todo instante para pensar nesses aspectos estruturais do texto.

Em casa: como os pais podem ajudar?

Existem fatores externos à escola que também interferem no desempenho dos alunos em relação à escrita, e que podem ser responsáveis por boa parte do seu engajamento em produzir textos. Isso foi apontado em um estudo da Universidade Harvard. Nele, as pesquisadoras Jeanne Chall e Catherine Snow coletaram textos narrativos e de escrita descritiva de crianças de sete, nove e onze anos de idade, e repetiram o processo um ano depois. O estudo foi realizado com famílias de baixa renda, que tinham recursos materiais limitados e que muitas vezes viviam em casas superlotadas.

Após analisar as atitudes das famílias e compará-las com o desempenho das crianças nos textos, elas puderam concluir que a qualidade da escrita está relacionada a uma série de ações que ocorreram em lares que, apesar das dificuldades enfrentadas, criaram circunstâncias para ajudar as crianças a se tornarem bons alunos. Essas práticas estavam relacionadas com:

  • Definir regras para as crianças, por exemplo, limitar tempo em que podem assistir TV
  • Assegurar a pontualidade e frequência das crianças nas escolas
  • Cumprir os compromissos assumidos
  • Manter a casa razoavelmente limpa e organizada
  • Organizar atividades pós-escolares variadas para as crianças

 

Como se pode ver, há muitos fatores que podem ajudar as crianças a ter melhor fluência na escrita e que não dependem apenas do quanto elas escrevem. A prática deve ser sempre influenciada, mas ela será facilitada se os adultos atentarem para esses outros aspectos.

 

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Você gostou deste texto e quer saber mais sobre escrita?

Baixe o livro Ensino da Língua: o que dizem as evidências

Confira 8 estratégias para trabalhar a compreensão da leitura

Leia duas entrevistas com o especialista Roger Beard sobre o tema:

  • Não se aprende a escrever (só) escrevendo: ensino da escrita é desafio mesmo para países com bom desempenho em educação
  • Ensino da gramática é mais eficaz quando associado ao ensino da escrita

 

IDados oferece estatísticas e informação sobre educação brasileira

Doze momentos do Instituto Alfa e Beto em 2015

O Instituto Alfa e Beto (IAB) lançou no Brasil a plataforma IDados, que tem como objetivo fornecer dados, estatísticas e informações sobre o cenário da educação no Brasil. Desenvolvido e coordenado pelo IAB, o site chega ao mercado para dar subsídios à gestão de escolas e órgãos públicos, pesquisadores e educadores, além de auxiliar os docentes no monitoramento do desempenho dos alunos.

Para falar sobre o assunto, o programa Revista Brasil entrevistou o presidente do IDados, Paulo Rocha e Oliveira. Ele informa que no site vai divulgar mensalmente o boletim IDados de educação. “Este boletim cada mês vai tratar de um tema diferente sobre educação no Brasil e vai apresentar os dados, não de forma bruta e resumida, mas em forma de análise que vai permitir a pessoa que tem interesse em melhor educação em tirar suas próprias conclusões e fazer as inferências que devem ser feitas no seu contexto,” explica.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

A educação só melhora com pressão social

O desenvolvimento da educação brasileira foi pautada nas últimas décadas pela expansão. Mais escolas, mais professores, mais disciplinas nos currículos, mais verba… Um modelo combatido pelo professor João Batista Oliveira. O doutor em pesquisa em educação defende que antes de investir mais recursos nos colégios, o País deveria fazer o dever de casa, que começa com a valorização da carreira do docente.

Oliveira, que é um dos especialistas mais reconhecidos no cenário nacional nessa discussão, foi o palestrante convidado pelo projeto Pernambuco Desafiado Educação, promovido pela Revista Algomais e TGI Consultoria em Gestão, com apoio da ABA Global Education e Faculdade Pernambucana de Saúde.

A palestra contou com uma plateia bastante representativa das escolas privadas do Recife, além da presença do vice-governador de Pernambuco, Raul Henry; do secretário de Educação do Recife, Jorge Vieira; e do secretário executivo de Educação profissional de Pernambuco, Paulo Dutra. A abertura do workshop e apresentação do palestrante ficou a cargo do economista e colunista da Revista Algomais, Jorge Jatobá.

Para repensar o futuro do sistema educacional, o professor João Batista apresentou uma série de números que questionam as ações mais recentes executadas pelo poder público brasileiro. O quadro negro da educação brasileira foi construído, na opinião do especialista, por decisões equivocadas. “O nosso sistema está inflado e só ouvimos falar em expansão. Os números nos levam a pensar o contrário do que ouvimos nos últimos 55 anos. É preciso fazer melhor e mais bem feito. Combater essa ideia que só se resolve gastando mais”, combateu. Ele justifica suas ideias afirmando que houve uma triplicação dos recursos injetados na educação nos últimos anos, sem que isso tenha obtido qualquer resultado mensurado.

Entre os números que embaçam essa análise estão a mudança demográfica da população brasileira, que indicam uma redução da população escolar nos próximos 20 anos. Para ilustrar o cenário inflacionado do ensino no Brasil, Oliveira mencionou que em Pernambuco, 24% da população total está na escola, enquanto, a rigor, esse número deveria ser em torno de 20%. Percentuais que se assemelham à média nacional, de acordo com o especialista. Ele avalia que as escolas atuais teriam vagas sobrando se não houvesse uma política de repetência nas nossas redes de ensino, que atinge atualmente 17% dos alunos matriculados.

Dentro dessa crítica da prioridade em expandir no lugar de qualificar a educação, João Batista menciona problemas estruturais como a ausência de um currículo básico para as escolas do País e, principalmente, a desvalorização da carreira do docente. “Observando a experiência dos países que têm um sistema de educação sólido, o que há de comum entre eles é o fato de terem professores qualificados. Enquanto o Brasil não tiver uma política para atrair jovens talentosos para serem professores, esqueçam o resto”. Na palestra, ele mencionou que os próprios pais e os diretores das escolas desestimulam que os jovens sigam o magistério devido ao desprestígio da profissão no País.

A formação de professores também é tema que preocupa o vice-governador Raul Henry. No wokshop ele citou uma pesquisa que revelou que quase metade dos alunos de pedagogia e de licenciatura têm renda familiar de até três salários mínimos e são filhos de pais que só estudaram até a quarta série do ensino fundamental. Além disso, esse futuro professor não tem em casa acesso a livros, jornais ou revistas e trabalha durante o dia para estudar à noite. “O cenário é preocupante, pois esse é o material humano que estamos requisitando para formar a futura geração do Brasil”.

Oliveira informou, no entanto, que atualizar todo um quadro de professores demanda cerca de 30 anos. O tempo para convencer os jovens com potencial a seguirem o magistério e prepará-los nas universidades para chegar na sala de aula e transformar essa escola.

“O problema é que o Brasil não tem paciência”, criticou o palestrante. Em uma das intervenções feitas pelo público presente, o diretor da ABA Global Education, Eduardo Carvalho, afirmou que a discussão sobre o sistema educacional no Brasil ocorre num
nível de referência muito distante dos países desenvolvidos. “Esse tema é um
dos que mais se discute em todos os países do mundo. A diferença é que enquanto partimos nosso debate de um Ideb de 3,5, os outros discutem as competências necessárias para os alunos do século 21 e assuntos mais evoluídos”, comparou. Ele lembrou ainda que há uma discussão do empresariado sobre que tipos de conteúdos são importantes para que o jovem desenvolva competências para o trabalho, como criatividade, comunicação e tecnologia.

Sobre a definição do currículo da escola brasileira, o professor João Batista defendeu que seja construído um conteúdo a partir da discussão com especialistas.

Um processo que não tem acontecido, na sua opinião. “Todo país sério tem um currículo. Isso é óbvio. Na maioria dos lugares do mundo eles são nacionais, nasceram de uma ampla discussão técnica e só se redige um currículo após um consenso, que é submetido aos professores. Muito diferente do que está sendo feito pelo Brasil, onde não houve mecanismo para discussão”.

O professor critica a prática da gestão brasileira de tentar resolver os desafios nacionais criando leis, que muitas vezes estão descontextualizadas e que não geram mudanças práticas no sistema de ensino. A quantidade elevada de disciplinas curriculares no ensino médio foi outro ponto questionado pelo especialista. Um problema que também é fruto da ideologia de expansão, que traz novas obrigatoriedades de conteúdos para a sala de aula.

Em seu livro recém-lançado, Repensando a educação brasileira – o que fazer para transformar nossas escolas, o especialista defende ser preciso observar a experiência de nações que conseguiram revolucionar o seu sistema educacional, como o Japão, a Coreia do Sul e até o Chile. “Na maioria dos países, as mudanças se deram na forma de um processo evolutivo, sem grandes sobressaltos”. Mais um recado de que a revolução do nosso sistema de educação não será fruto de um mandato presidencial, mas de um consenso a ser construído e acompanhado pela sociedade civil e por todos os grupos de interesse pela educação.

Ensino é essencial para o País crescer

Ao considerar o ensino como uma questão estrutural para a economia do País, Jorge Jatobá, que fez a abertura do workshop Pernambuco Desafiado – Educação, colocou em pauta o problema da competitividade, fruto da baixa qualidade dos nossos sistemas de educação.“Se quisermos construir um país próspero e competitivo temos que investir em conhecimento de boa qualidade.

Se fracassarmos nesse intento fracassaremos como nação. Discutir os desafios para a evolução da qualidade da educação básica no Estado é vital para construir alternativas que permitam superar um problema que tem sido considerado como um dos gargalos para a economia se tornar competitiva e se modernizar”.

Encerrando o evento, o vice-governador, Raul Henry, que tem sido um dos expoentes da educação no meio político, tratou do atual momento de crise como uma oportunidade de reflexão acerca das reformas que não foram feitas no País. “Tivemos uma grande janela de oportunidade, mas não fizemos os investimentos em infraestrutura; não realizamos as reformas estruturais no País, como a previdência e a tributária; e não fizemos o dever de casa na educação pública”, pontuou.

A qualificação dos docentes e a criação de instrumentos de meritocracia foram as bandeiras levantadas pelo secretário municipal, Jorge Vieira. “Professor qualificado é a condição necessária para o progresso.

É preciso investir em formação prática de sala de aula. Além disso, é preciso ser possível premiar os bons, orientar uma gestão por resultados a partir de metas”, defendeu. O secretário executivo de educação profissional de Pernambuco, Paulo Dutra, mencionou que um dos caminhos que o Estado de Pernambuco abraçou nos últimos anos foi fortalecer o seu programa de educação profissional e de ensino médio integral nos últimos anos. Ele destacou também a melhoria do desempenho do Estado medido pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que saltou do 21º lugar no País em 2007 para o 4º lugar no ano de 2013. Dutra ressaltou também a redução do abandono escolar no Estado.

Conheça o pensamento de João Batista Oliveira

DECISÕES NA EDUCAÇÃO DEVEM SER BASEADAS EM EVIDÊNCIAS

Para mudar o quadro negro do nosso sistema de ensino, o professor João Batista Oliveira defende a educação baseada em evidências. Ou seja, levar em consideração o resultado de grandes pesquisas realizadas nas últimas décadas que apontaram os instrumentos e metodologias mais adequados para a aprendizagem. O especialista lembra que, atualmente, os gestores públicos e privados dispõem de contribuições nas neurociências para o conhecimento do funcionamento do cérebro. “Hoje as decisões de um governo, e de uma escola ou de um professor podem e devem ser tomadas a partir de critérios muito mais robustos, sólidos e defensáveis do ponto de vista científico. Podem ser tomadas de forma profissional, não apenas
com base na experiência, costume, conveniência, aspectos formais, preferências pessoais ou achismo”, afirma.

CRIAR PRESSÃO SOCIAL

“A qualidade das escolas só vai melhorar se houver pressão social para que assim seja. O Brasil ainda não se deu conta da importância e da gravidade de seus problemas educacionais”.

O professor João Batista Oliveira afirmou que os pais dos alunos da rede pública parecem satisfeitos com o sistema educacional, porque eles tiveram menos acesso à escola e menos tempo de estudo que seus filhos.

Na palestra ele criticou também os empresários brasileiros. “A classe empresarial sabe cobrar quando seus interesses são afetados, mas não se mobiliza de forma adequada para educação de qualidade”. Ele lembra que a iniciativa privada é uma das prejudicadas pela má educação brasileira, pois absorve mão de obra pouco qualificada e precisa investir em programas de formação.

“É PRECISO REPENSAR CARREIRAS DE MAGISTÉRIO”

Um dos maiores entraves para mudar a realidade da educação brasileira é o capital humano das redes de ensino. Para o especialista, mesmo com todo o desenvolvimento das tecnologias aplicadas ao ensino, o docente continua tendo um papel fundamental no sucesso ou fracasso do aluno. “Nenhum sistema educativo é melhor do que o nível de qualificação de seus professores. E o preparo dos professores se afere por dois indicadores principais: sua capacidade de melhorar o resultado dos alunos e a qualidade e pertinência de seus conhecimentos a respeiro do que leciona”, declarou em seu livro Repensando a educação brasileira.

Uma distinção da carreira de docente entre o Brasil e os países que se destacam nos exames do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) é o prestígio da profissão. Onde o professor é valorizado como profissional, os jovens mais talentosos são recrutados para atuar na sala de aula. “Para melhorar o ensino é preciso estabelecer padrões elevados para atrair jovens talentosos para o magistério”. Oliveira defende que é urgente desconstruir o mito do “professor coitadinho” para criar uma cultura de valorização efetiva dos professores pela sociedade. Além de atrair jovens para a docência, o especialista sinalizar que também é necessário estabelecer políticas adequadas de formação e mecanismos de estímulo para que o professor continue aprendendo.