QI e capital cognitivo: existem estratégias mais eficazes? | Capítulo 18

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Este post faz parte de uma série produzida pelo Instituto Alfa e Beto que irá desvendar em 20 capítulos a inteligência. Todas as segundas-feiras são publicados novos artigos neste espaço. Acompanhe! Clique aqui e veja todos os posts já publicados. Para ver o índice completo da série, clique aqui.

Nos textos anteriores vimos que o QI das pessoas está fortemente associado ao seu desempenho escolar e a outros resultados importantes para a vida. Também vimos que o QI de um país está fortemente associado ao progresso econômico, acúmulo de riqueza e instituições democráticas sólidas que estimulam a liberdade de criação, expressão, produção e de comércio. As evidências discutidas no post anterior, especialmente, sugerem que há um círculo virtuoso no qual o elevado capital cognitivo está por detrás desse processo.

E há evidências de que a existência de uma elite intelectual também está causalmente associada a esse desempenho superior. Dentre os vários fatores explicativos, a escolarização formal é menos importante do que o nível de engajamento das pessoas em atividades relacionadas com STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e com outros fatores como a qualidade das instituições econômicas e sociais que estimulam e promovem a liberdade econômica e intelectual. Mas a educação formal e a escolarização têm sua importância – tanto é assim que os indicadores usados para os estudos citados são resultados de testes como o PIRLS, TIMMS e PISA, associados ao que se ensina nas escolas.

Um dos fatos intrigantes dos estudos entre inteligência e desenvolvimento é o impacto diferencial da distribuição dos resultados: a existência de uma elite intelectual (percentil 95 e acima) rende melhores resultados para o país. Por outro lado, depende de um desempenho razoável do grupo situado no percentil 50, ou seja, em torno da média e com QI entre 85 e 115 pontos).

A pergunta interessante refere-se à eficácia, isto é, saber em que medida as estratégias usuais implementadas nos sistemas educacionais ajudam ou dificultam a obtenção desses resultados. Outra pergunta interessante refere-se à equidade, isto é, em que medida estratégias para favorecer a eficácia comprometem a qualidade. Em outras palavras: o que ajuda mais o país (e as pessoas como um todo): investir mais nos que nascem bem dotados, nos que nascem com QI mais baixo, ou nos que situam no patamar médio? Existe um equilíbrio entre essas decisões?

A história recente dos países desenvolvidos e dos que se tornaram desenvolvidos no último século fornece algumas pistas – embora nem sempre essas políticas tenham sido desenvolvidas com base no que hoje sabemos sobre o tema da inteligência. Parece que os resultados existentes são frutos mais de um desenvolvimento histórico e de contingências políticas do que de políticas educacionais deliberadas.

No século XX, assistimos em todo o mundo a diversos movimentos importantes: a extensão da escolaridade; a eliminação progressiva do sistema de “tracking”, que separava alunos em escolas diferentes desde cedo; o incremento de conteúdos de matemática e ciências nos currículos; a expansão da pré-escola; e, mais recentemente, da educação infantil; a expansão do ensino superior; e do número de pessoas dedicadas à produção científica e tecnológica. Contudo, nenhuma delas mudou a “cara” da escola de forma muito acentuada.

Na próxima semana…

Seria possível identificar mudanças mais profundas decorrentes da evolução do conhecimento sobre o desenvolvimento da Inteligência e a importância do conhecimento? É disso que trataremos no próximo post.