Educação: lições de Sobral

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Escola emocional

Nota do Instituto Alfa e Beto:
Este artigo foi publicado originalmente no jornal O Povo

São raras as boas notícias em educação. Os dados preliminares do Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Ceará (Spaece) trazem novidades sobre a consolidação das políticas educacionais em Sobral.

Os resultados são impressionantes. Comecemos pela alfabetização, com os resultados dos alunos do 2º ano. Na 1ª. avaliação do Spaece, em 2007, Sobral saiu disparado na frente dos demais municípios. E continua muito bem. A média ponderada é de 203 pontos, comparada com a média do conjunto dos demais municípios, que é de 142 pontos; 85% dos alunos atingiram o nível suficiente, para o restante dos municípios esse nível é de 4%. Tem mais: o resultado das escolas varia de 178 a 231 pontos, a grande maioria situa-se entre 185 e 215 pontos. Ou seja: a pior escola de Sobral tem, já no 2º ano, resultados superiores à média do 5º ano dos demais municípios do Ceará.

Os resultados do 5º ano também são positivos e promissores. Para ilustrar, analisemos os dados de Língua Portuguesa. A média de Sobral é 217 pontos, contra 171 para os demais municípios. O crescimento em relação ao 2º ano ainda é pequeno, mas comparando-se com os anos anteriores, observa-se um crescimento significativo: 38 das 40 escolas aumentaram seus pontos em relação ao ano anterior e apenas uma teve uma pequena perda. O mais impressionante: apenas 1 escola teve menos de 200 pontos. A maioria se situa entre 200 e 230 pontos.

Esses resultados não encontram paralelo no ensino público no Brasil, nem em termos absolutos nem no que diz respeito à similaridade de resultados entre as escolas. Portanto, vale uma reflexão a respeito de seu significado e de como Sobral chegou lá. Como o espaço é curto, a análise tem que ser concisa.

Primeiro, Sobral alfabetiza os alunos no 1º ano, como deve ser. Isso dá aos alunos uma enorme vantagem. Sabendo ler, já no 2º ano eles podem começar a ler para aprender. Segundo, Sobral tem políticas educacionais consistentes, tanto de alfabetização quanto para as séries iniciais. Essas políticas chegam às escolas, são implementadas, acompanhadas e avaliadas, por isso os resultados são muito compactos. A diferença de resultados entre escolas é bastante reduzida. Nenhum município brasileiro desse porte conseguiu essa façanha, especialmente nessa faixa relativamente mais elevada de desempenho. Terceiro, Sobral não faz um punhado de coisas. Ele não tem uma miríade de programas e projetos: é pouca coisa feita com foco, senso de prioridade e continuidade administrativa.

Há ainda muito a fazer, mas, mantidas as políticas atuais, tudo indica que na próxima edição da Prova Brasil a média do 5º ano de Sobral vai estar próxima dos 240 pontos. Estive pessoalmente engajado nessas mudanças desde 1998. Mas a contundência dos resultados torna insuspeito meu depoimento. Sobral demonstra que, havendo vontade política e continuidade, é possível mudar a cara da educação no Brasil. Não apenas no Ceará.