O Ensino Médio e o golpe de caneta | Por Claudio de Moura Castro

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Este artigo faz parte de uma série que debate em dez capítulos questões fundamentais para o avanço da educação no Brasil. As publicações acontecem em comemoração aos 10 anos de atuação do Instituto Alfa e Beto. Leia AQUI a série completa de artigos. 

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As mazelas do ensino brasileiro não são poucas. De fato, melhorar educação é lidar com uma multidão de fraquezas. Pior, as tentativas de eliminá-las vem se revelando pouco eficazes.

Mas no Ensino Médio temos algo diferente. É verdade, os mesmos problemas estão presentes, a exemplo das deficiências na formação dos professores. Contudo, muitos escolhos são apenas o resultado de decisões e leis infelizes. Ou seja, equívocos devastadores poderiam ser eliminados com golpes de caneta. Vejamos.

Para o filósofo A. Whitehead, o que quer que se estude, que seja com profundidade. O aprendizado que interessa não é decorar uma coleção de fatos e datas, mas o mergulho em profundidade nos princípios e teorias. Só assim aprendemos a pensar com rigor. Mas nossos currículos transbordantes não permitem que isso aconteça. Antes de entender, salta-se para o próximo tópico, pois são disciplinas demais, assuntos demais e informação em excesso.

No Ensino Médio, nenhum país conhecido oferece um conjunto único de disciplinas. Por boas razões, pois os que gostam de Literatura podem detestar equações. Outros gostam de Física e tropeçam na História. Nem há tempo útil para estudar tudo com um mínimo de profundidade e nem faz sentido insistir no que o aluno não gosta. Mas é exatamente isso que obriga a escola média brasileira: o mesmo e demais para todos.

Considerando que a maioria dos alunos não ultrapassa esse nível, ainda menos sentido faz se esse currículo único estiver apenas voltado para quem pretende ascender ao ensino superior. Para a maioria que nele encerra sua escolaridade, faz mais sentido aprender o que servirá mais imediatamente na vida, em vez de conhecimentos somente úteis em um curso superior. E por ser distante do mundo dos alunos, a escola é vista como supremamente chata e desinteressante.

Os assuntos tratados em um curso técnico são arrogantemente considerados menores e não são aceitos como créditos do Ensino Médio. É como se desenho técnico, eletricidade ou aplicações da mecânica sejam assuntos subalternos e indignos. O resultado prático dessa discriminação é que o curso técnico impõe cerca de mil horas adicionais, já que não se aceitam tais disciplinas no currículo acadêmico. Na prática, a alunos de origem modesta se impõe uma presença mais longa em uma escola aborrecida e já sobrecarregada de matérias. Só no Brasil é assim.

Tudo isso é fácil de ser consertado. A caneta faria o serviço. Algum especialista médico explica a paralisia nas mãos de quem deveria assinar?

*Claudio de Moura Castro é economista, professor e pesquisador em educação.

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