Um estudo publicado recentemente na revista Nature Human Behaviour revela um panorama preocupante: a maioria das crianças em países de baixa e média renda não consegue atingir níveis mínimos de leitura até os 10 anos de idade. A análise, baseada em mais de 500 mil estudantes de 48 países, mostra que essas crianças não dominam sequer as habilidades mais elementares da leitura, como o reconhecimento de letras e sons, leitura de pseudopalavras e fluência de leitura oral.
O principal achado do estudo – conduzido por pesquisadores do Banco Mundial e da Universidade de Londres – é contundente: sem o desenvolvimento de habilidades de decodificação, não há avanço sustentável na compreensão leitora. E mais: quanto mais o tempo passa sem essa base sólida, mais os alunos se distanciam dos padrões mínimos de proficiência. O problema, apontam os autores, não está apenas nas condições sistêmicas das escolas, mas na ausência de métodos eficazes de alfabetização, baseados na ciência cognitiva da leitura.
Ciência da leitura e o método fônico: convergência com a prática
A pesquisa destaca que países que conseguiram melhorar seus indicadores de leitura, como os Estados Unidos e o Reino Unido, adotaram em larga escala programas sistemáticos de ensino fônico – que se baseiam na associação direta entre grafemas (letras) e fonemas (sons). Esses programas proporcionam à criança as ferramentas necessárias para decodificar palavras, o que facilita o reconhecimento automático, essencial para a fluência e a compreensão textual.
Essa abordagem, amplamente respaldada por décadas de pesquisa em psicologia cognitiva, é a mesma que fundamenta a atuação do Instituto Alfa e Beto. Com base em evidências científicas sólidas, o Instituto desenvolve e implementa programas de alfabetização que priorizam o ensino explícito e estruturado da correspondência entre letras e sons. Isso inclui materiais didáticos adequados, capacitação docente e avaliações frequentes – elementos que o estudo identifica como indispensáveis para reverter os baixos índices de alfabetização.
O risco de ilusões pedagógicas
Outro ponto sensível revelado pelo artigo é a tendência de se medir o progresso apenas com base em ganhos relativos – por exemplo, comparando o desempenho de um ano para outro – sem considerar se esses ganhos realmente colocam os alunos em uma trajetória de proficiência. Como ilustram os autores, um aluno pode dobrar sua velocidade de leitura e ainda assim estar muito aquém do mínimo necessário para compreender textos adequados à sua série escolar. Para evitar essas armadilhas, os pesquisadores recomendam o uso de medidas absolutas de fluência, como palavras lidas corretamente por minuto – prática já consolidada nas avaliações aplicadas pelos programas do Instituto Alfa e Beto.
Um alerta para políticas públicas
O estudo lança um alerta claro aos formuladores de políticas educacionais: investir apenas em acesso à escola ou em atividades voltadas à compreensão de textos sem garantir que as crianças aprendam a decodificar é um erro estratégico. A alfabetização na idade certa exige um foco prioritário nas habilidades básicas da leitura – e essas só podem ser desenvolvidas com métodos baseados na ciência.
Na publicação da Revista Nature, em escala global, é o que o Instituto Alfa e Beto vem praticando no Brasil há duas décadas: alfabetização eficaz exige método, ciência e rigor. A leitura é uma habilidade complexa, mas o caminho para desenvolvê-la com sucesso está cada vez mais claro – e está ao alcance das redes que escolherem trilhá-lo com base em evidências.