Dados sugerem que apenas 10% dos alunos das redes estaduais atingem níveis satisfatórios no Ensino Médio

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Apenas um em cada 10 alunos alunos das redes estaduais atingem níveis satisfatórios de aprendizagem ao final do Ensino Médio. É o que sugere o Boletim IDados da Educação N.2, lançando nesta semana pelo Instituto Alfa e Beto. O Boletim, divulgado periodicamente, analisa com rigor e independência dados e informações produzidos por diferentes fontes com o objetivo de levar conhecimento relativo a questões educacionais a diferentes públicos. Nesta edição, o tema são os Resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2014.

Para calcular o desempenho dos alunos, o IDados desagregou os resultados dos estudantes no exame em cinco níveis de desempenho, sendo que o nível 5 representa as notas mais altas. Se considerarmos o nível 3 como satisfatório, ou seja, pelo menos 600 pontos na prova de Redação e 550 nas demais provas, aproximadamente 20% dos alunos das redes estaduais avaliados conseguem atingir esse patamar. Com isso, eles estariam aptos a concluir o Ensino Médio e prosseguir estudos.

Contudo, se considerarmos o total de alunos matriculados no último ano do Ensino Médio nas redes estaduais, apenas 10% atingem esse nível. Ou seja: para cada 100 alunos matriculados no último ano do Ensino Médio, apenas dez deles deixam a escola sabendo o que se é esperado – se considerarmos o nível 3 como adequado. Os outros 90 alunos finalizam os estudos sem dominar habilidades básicas em áreas como Matemática e Linguagem.

Trata-se de dados perturbadores que lançam luz sobre um fato amplamente conhecido: o Ensino Médio agoniza no Brasil. É nesta etapa que se encontram os índices mais preocupantes de evasão e baixo desempenho. Um currículo inchado com disciplinas que não atendem às reais necessidades dos jovens e a falta de diversificação, que permita aos estudantes escolher caminhos para o futuro, representam algumas das raízes desses problemas.

O baixo desempenho dos alunos evidenciado pelo Boletim IDados da Educação tem como consequência dificuldade dos jovens em ingressar no mercado de trabalho devido à baixa qualificação; dificuldade em prosseguir os estudos no nível superior ou, uma vez dentro da universidade, dificuldade em progredir da forma adequada; baixa produtividade e perspectivas restritas. Reverter este quadro requer empenho por parte das autoridades e pressão por parte da sociedade e do setor produtivo.

Outros dados

Ainda segundo os dados analisados, pouco mais da metade dos participantes do ENEM 2014 já havia concluído o Ensino Médio em anos anteriores e apenas 24% deles cursavam o último ano do Ensino Médio. Desses, aproximadamente 27% estavam matriculados na rede privada, sendo que esta contêm apenas 22% das matrículas no último ano do Ensino Médio. Esses dois dados, somados a outros, mostram que o ENEM sofre problemas de amostragem e não pode ser considerado um termômetro fiel da qualidade do Ensino Médio no Brasil.

Constata-se, também, que os alunos das escolas públicas são os que menos se beneficiam do ENEM. As notas das escolas das redes privadas são consistentemente superiores às notas das redes estaduais – e isso não apenas em 2014, mas também em anos anteriores, mostra o Boletim. Pior: em todos os níveis de analisados pelo IDados os alunos das escolas privadas obtêm melhores resultados do que os das escolas públicas.

Relação entre gastos e melhor desempenho

Os dados analisados no Boletim IDados sugerem que não existe uma relação significativa entre gastos e desempenho. Os estados que apresentam gastos mais elevados não obtiveram necessariamente médias mais altas no ENEM 2014.

Outra preocupação em relação aos custos desse exame – que chega a mobilizar até o Exército Nacional – é que, apesar de ser elaborado como uma avaliação de qualidade dos alunos concluintes do Ensino Médio, apenas 24% dos participantes preenchem esse perfil. Portanto, o objetivo real da prova parece ser o de selecionar alunos para o ensino superior.

Dado o alto grau de correlação entre os resultados das provas e os elevados custos dos testes, especialmente da prova de redação, surge o questionamento: não seria o caso de utilizar meios mais baratos, mais eficientes e igualmente eficazes para atingir os mesmos objetivos, permitir maior diversificação nas opções de prova que os alunos fazem e dar respostas mais rápidas para alunos e universidades organizarem seus planos de vida? É preciso cobrar por respostas.

Ficou interessado em saber mais sobre os desafios do ENEM? Baixe o Boletim IDados da Educação completo e confira outras análises sobre esse tema.

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Para se aprofundar no tema dos desafios do Ensino Médio no Brasil, navegue pelo nosso acervo de publicações.

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Publicações recentes do Banco Mundial também abordam o tema: