Exterminador do futuro

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Escola emocional

Nota do Instituto Alfa e Beto:
Este artigo foi publicado originalmente no jornal Brasil Econômico

O Brasil ainda não acertou no Ensino Médio. Vem aí outra reforma e as chances de êxito são mínimas. A proposta do MEC consiste em ampliar o atendimento para o tempo integral e incluir, no segundo turno, a formação profissional. Tudo indica que esse ciclo – considerado o exterminador do futuro – continuará justificando a alcunha.

Os dados indicam isso. O país tem cerca de 9 milhões de alunos no Ensino Médio e só 1 milhão em cursos profissionais. Metade tem mais de 18 anos e quase 50% dos cursos são noturnos.

De cada 10 jovens que iniciam o ciclo, só 4 o concluem. Há mais vagas no 1º ano do que concluintes do Fundamental. E o número dos que ingressam na universidade a cada ano é muito superior ao dos concluintes do Ensino Médio. A realidade mostra que quem não finaliza essa etapa ganha menos do que os formados apenas no Fundamental – o mercado identifica e penaliza fortemente os excluídos.

Onde está o erro? O primeiro problema está no Fundamental: só 15% dos que o concluem estão aptos para algum tipo de Ensino Médio. O segundo é o modelo de ensino que, baseado na estrutura curricular francesa do século 19, se caracteriza por um número enorme de disciplinas obrigatórias.

Esse conceito de educação geral visa preparar ou selecionar alunos para a universidade, via vestibular ou ENEM. Nenhuma outra nação jamais teve um Ensino Médio desse tipo.

As soluções propostas pelo MEC não lidam com as principais questões. Precisamos modificar a concepção de Ensino Médio, reduzindo o peso e número das disciplinas acadêmicas e diversificando os cursos – profissionalizantes ou não – para permitir currículos mais interessantes e saídas mais ajustadas ao mercado de trabalho, cada vez mais flexível.

O vestibular é outra questão. Urge criar mecanismos diferentes do ENEM e semelhantes aos dos demais países: o estudante pode optar pelas disciplinas e as universidades podem estabelecer critérios para aceitar seus alunos, tanto no que tange às matérias quanto às notas.

E isso, claro, só para os que vão cursar universidades. O que impede o Brasil de acertar a mão no Ensino Médio? A meu ver, quatro fatores. Primeiro, em matéria de educação, andamos na contramão do mundo.

Segundo, vigora a ideia de que todos irão para a Universidade e de que todos devem ter formação geral igual no Ensino Médio. Esse elitismo é reforçado pelas pressões corporativistas que visam assegurar mercados de trabalho para professores de disciplinas específicas.

O terceiro fator é o preconceito contra a capacitação profissional e qualquer coisa relacionada ao mercado. O quarto é a falta de entendimento de que essa formação só é eficaz quando ministrada em instituições com ethos desse tipo de ensino.

Quem acompanha o setor sabe que as escolas técnicas federais preparam alunos para as universidades, ao passo que o SENAI os capacita ao mercado. A pretexto de oferecer educação integral em tempo integral, o MEC perpetua os vícios. Onde está a mudança da atual reforma?