O que sabemos sobre inteligência: 12 pontos de consenso | Capítulo 3

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Este post faz parte de uma série produzida pelo Instituto Alfa e Beto que irá desvendar em 20 capítulos a inteligência. Todas as segundas-feiras são publicados novos artigos neste espaço. Acompanhe! Clique aqui e veja todos os posts já publicados. Para ver o índice completo da série, clique aqui.

No post da última semana definimos inteligência como uma capacidade para resolver problemas em geral de forma ágil (inteligência fluida) ou problemas conhecidos associados ao domínio de conhecimentos específicos sobre o mundo ou uma área de conhecimento (inteligência cristalizada). Esse conceito é aceito pela maioria dos cientistas que estudam o tema.

Em 1994, após o polêmico livro A Curva Normal (ou The Bell Curve, em inglês), alguns dos mais importantes estudiosos publicaram no jornal americano The Wall Street Journal um documento que trazia as principais conclusões da ciência cognitiva sobre a inteligência até então. As conclusões permanecem válidas até hoje e por isso resumimos o documento de 1994 a seguir:

  1. Inteligência é uma capacidade muito geral que envolve habilidades de raciocínio, planejamento, solução de problemas, pensar de forma abstrata, compreender ideias complexas, aprender rapidamente e aprender a partir da experiência.
  2. Inteligência, assim definida, pode ser medida, e, de fato o é, por meio de testes. Os testes de inteligência se situam entre os mais precisos dentre todos os tipos de testes psicológicos.
  3. Há vários tipos de teste de inteligência – mas todos medem essencialmente a mesma capacidade – ou “construto”, na linguagem científica.
  4. A distribuição dos resultados de uma população em testes de QI pode ser representada na forma de uma curva normal (em forma de sino, daí o nome do livro The Bell Curve). A maioria das pessoas se situa em torno da média (100 pontos). Por convenção o desvio padrão é de 15 pontos. Também por convenção se define que as pessoas “geniais” são as que se situam-se acima de 130 pontos (cerca de 3% no caso da população norteamericana). As pessoas com QI situado abaixo de 70-75 pontos são consideradas como portadores de retardo cognitivo – o que lhes dificulta lidar com muitos desafios da escola e da vida.
  5. Testes de inteligência não favorecem determinados grupos ou raças – nem mesmo nos países em que foram desenvolvidos. Existem testes não-verbais que neutralizam a necessidade de conhecer a língua usada no teste. Pessoas de todos os grupos raciais e étnicos podem se situar em qualquer ponto da escala.
  6. O QI é é fortemente relacionado com resultados educacionais, ocupacionais, econômicos e sociais.  Mas ele também é um indicador mais fortemente relacionado com qualquer outro traço humano mensurável – inclusive indicadores como saúde, longevidade e muitos outros. A razão disso é que ele está associado à capacidade de tomar melhores decisões.  Obviamente isso não significa que as pessoas mais inteligentes sejam as únicas a tomar boas decisões, nem que elas sempre as tomem.
  7. Um QI mais elevado constitui uma vantagem na vida porque quase todas as atividades – inclusive do dia a dia – requerem algum grau de raciocínio e tomada de decisões. Mas um QI alto, por si só, não é garantia de sucesso na escola ou na vida. Falta de esforço ou de caráter podem estragar uma vida. E pessoas podem compensar um QI mais baixo com esforço, caráter e boas habilidades socioemocionais.
  8. As vantagens práticas de um QI mais alto aumentam na medida em que a vida se torna mais complexa.
  9. O nível de QI das pessoas é o que melhor prediz o desempenho diante de situações escolares, educacionais, de treinamento ou que requeiram a realização de tarefas complexas. Mas não é o único fator.
  10. Outros traços de personalidade, talentos especiais, aptidões, capacidades físicas, experiência etc., muitas vezes são essenciais para o bom desempenho, mas eles têm aplicação mais restrita e são menos transferíveis entre diferentes contextos e atividades. Alguns autores chamam esses traços de “outras inteligências” (trataremos disso mais adiante nesta série).
  11. Natureza e ambiente, juntos, determinam o QI, mas o papel mais importante é da genética. O fato de que o QI seja hereditário não significa que não seja afetado pela experiência. A experiência afeta mais a determinação do que o QI nos primeiros anos de vida. O caráter hereditário do QI torna-se mais evidente nos anos mais avançados. Trataremos oportunamente desse aparente paradoxo.
  12. Membros da mesma família diferem em seu QI, pelas duas razões acima. Mas em geral as diferenças entre os membros de uma família raramente vão além de 12 pontos – o que confirma o peso da hereditariedade.

De 1994 aos nossos dias, o conhecimento sobre inteligência evoluiu bastante, mas nada do que se descobriu desmente as conclusões acima. Além disso, a importância da inteligência para os indivíduos e para a sociedade aumentou ainda mais. Nesses anos também aprendemos um pouco mais inclusive a respeito da relação da natureza com o ambiente, da importância dos primeiros anos de vida (a chamada Primeira Infância) e de outros fatores não cognitivos e socioemocionais que estão fortemente associados com a inteligência.

Vale ressaltar que estamos falando aqui do paradigma científico predominante – e não de opiniões pessoais não comprovadas, ainda que esposadas por cientistas. O fato do tema ser controverso não retira o caráter científico – e portanto sempre provisório – do conhecimento acumulado sobre o tema até o momento.

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Na próxima semana…

Você certamente já ouviu falar das “outras” inteligências – emocional, social, afetiva. Mas, elas existem de fato?