Por que poucos municípios brasileiros conseguem resultados (quase) adequados em educação?

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Artigo publicado em Veja.com

Primeiro vamos comprovar a premissa: poucos municípios conseguem resultados (quase) adequados. Um resultado adequado seria ter pelo menos 70% dos alunos atingindo o nível adequado no 5º e no 9º ano. Não é o ideal, mas é adequado. No Brasil não temos NENHUM município que chega nisso no 5º e 9º ano. Temos algumas poucas dezenas de municípios que conseguem isso no 5º ano. E pouquíssimos que conseguem no 9º ano. E, até a Prova Brasil de 2013, nenhum que consegue nos dois níveis ao mesmo tempo.

Na primeira rodada do Prêmio Prefeito Nota 10, o município de Brejo Santo, no Estado do Ceará, ganhou o primeiro lugar. Os municípios Sapiranga (RS), Lucas do Rio Verde (MT) e Cerquilho (SP) ganharam menção honrosa. Na região Norte nenhum município chegou perto dos critérios mínimos. São os municípios que chegaram mais perto dos resultados acima.

Uma observação importante: se consideramos os 30 “finalistas”, ou seja, municípios que chegaram perto dos critérios, quase todos esses municípios são “pobres”: seus recursos para a educação se limitam essencialmente aos recursos constitucionais. Isso é prova suficiente de que, para atingir esses níveis (quase) adequados nenhum município pode invocar falta de recursos. Em caso de dúvida há pelo menos 30 municípios “pobres” no Brasil que chegaram lá.

Por que tão poucos? A pergunta não tem uma só resposta. No ano de 2013, a Revista VEJA fez um estudo em vários dos municípios “finalistas”. Analisando essas reportagens e os dados dos municípios, identificamos algumas características comuns. Há três características que chamam a atenção: primeiro, eles fazem o trivial direitinho; segundo, eles não fazem quase nada além disso, não se distraem com milhares de outras iniciativas e projetos; terceiro, neles, mudam os prefeitos, mas o que deu certo continua.

Da experiência desses municípios podemos extrair cinco lições sobre o essencial para obter resultados (quase) adequados:

  1. Ter um programa de ensino para cada série. Como o Brasil ainda não tem um, cada município precisa ter o seu.
  2. Escolher pessoas experientes para fazer o programa de ensino acontecer nas escolas. Esta é a missão primordial do diretor.
  3. Dar aos professores instrumentos adequados à sua condição e preparo.
  4.  Avaliar o que acontece.
  5. Corrigir os rumos em função dos resultados da avaliação.

Mais um detalhe: para que essas cinco coisas possam funcionar, é preciso acabar com todo o resto – milhares de programas, projetos e “boas ideias” que distraem a escola de seu foco. Para saber mais sobre esses municípios clique aqui.

Essas são ideias gerais. Nos próximos posts vamos detalhar algumas delas. Mas como todo prefeito é preocupado com recursos, na próxima semana vamos tratar da crise do financiamento.