Coronavírus pode nos ensinar sobre a relação com as crianças

A epidemia do Coronavírus constitui uma excepcional oportunidade de aproximar mais as famílias de seus filhos. As crianças merecem particular atenção.

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Coronavírus pode nos ensinar sobre a relação com as crianças

A epidemia do Coronavírus constitui uma excepcional oportunidade de aproximar mais as famílias de seus filhos. Nesta crise que está por vir e que poderá ser dura e intensa, as crianças merecem particular atenção. Embora menos vulneráveis ao vírus, podem se tornar vulneráveis a famílias que, muitas vezes por forças das circunstâncias, se viram obrigadas a terceirizar a convivência no dia a dia.

Sites do mundo todo estão cheio de dicas – neste post, compartilho alguns princípios saudáveis derivados da psicologia do desenvolvimento infantil para a reflexão dos pais, especialmente daqueles que não passam dias a fio com as crianças dentro de casa.

No filme “A vida é bela”, Roberto Benigni passa anos distraindo seu filho no campo de concentração e fazendo de conta que tudo é brincadeira. Há rotinas, expectativas, momentos de tensão, alegria. No final, salva-se a criança, que se reencontra com a mãe. Ninguém precisa ser herói como no filme. Mas todos precisam ser o pai e mãe que todo filho merece. O COVID-19 oferece esta oportunidade.

Comecemos pelo que vale para todas as crianças: elas precisam de calma e segurança. É isso que elas esperam dos adultos. Elas precisam entender, a seu modo, o que está causando pânico e medo em todos. Para isso, precisam de tempo e espaço para sentir e compartilhar seus medos e ansiedades. Elas precisam saber que ninguém é culpado – por ter nascido ou viajado para algum lugar. Elas precisam de proteção, evitando exposição à mídia. No melhor caso, há informações, fake news e detalhes demais que não precisam ser ouvidos. As que ainda não sabem precisam saber que na vida há restrições, há estresse e nem tudo está sob nosso controle. Ao mesmo tempo, precisam de informação honesta e precisa, adequada à sua capacidade de compreensão – da mesma forma que respondemos aos infindáveis “porquês” das crianças de três anos.

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As crianças também precisam compreender o que precisam fazer e como podem contribuir dentro e fora de casa: ficar longe de pessoas que estão gripadas ou tossindo muito, jogar fora o lenço de papel que acabaram de usar, lavar as mãos corretamente várias vezes por dia. Isso ajuda as crianças a se sentirem no controle da situação.

Mas isso é pouco: o grande desafio será conviver bem com as crianças ao longo do dia. Crianças precisam de companhia e de tempo para ficar sozinhas. Precisam de rotinas e previsibilidade. Precisam de um ambiente seguro, mas ao mesmo tempo desafiante para ser explorado. Precisam de um adulto para interagir, ler com elas, conversar, comentar os pequenos detalhes de cada brincadeira. Precisam de adulto que entenda que brincar nem sempre precisa de brinquedo. E sobretudo precisam de tempo longe do shopping, da barulhada, da correria, da televisão e dos joguinhos.

Tempo de coronavírus é tempo de criança. É hora de um saudável reencontro dos pais com seus filhos. Os pais terão muito a aprender com a capacidade de resistência das crianças e, especialmente, com sua capacidade de fazer sentido dos pequenos detalhes do cotidiano. Tempo que requer muita paciência e bom humor, o que pode ser interessante também para que se reconheça o valioso trabalho de babás e de educadores que trabalham em creches e pré-escolas.

 

Texto originalmente postado no blog “Educação em evidência”, do presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, no portal da revista Veja. Para acessar, clique aqui.